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APRESENTAÇÃO DA CARTA DO REITOR MAIOR SOBRE A POBREZA

DOCUMENTOS DO DICASTÉRIO DA ECONOMIA

 

APRESENTAÇÃO DA CARTA DO REITOR MAIOR SOBRE A POBREZA

ENVIADOS PARA ANUNCIAR AOS POBRES UMA ALEGRE MENSAGEM

 

1. Introduçã

oA recente carta do Reitor Maior sobre a pobreza orientou de modo claro a escolha do tema central deste encontro dos inspetores e ecônomos inspetoriais do Brasil. Pessoalmente sinto-me feliz em poder entreter - me convosco, não tanto em se tratando de um aspecto especificamente econômico-financeiro e gerencial, mas sobretudo de um conteúdo carismático que se refere diretamente à nossa identidade de religiosos consagrados e que, como ecônomos. nos é diretamente confiado pela tradição salesiana à nossa responsabilidade e cuidados. Quanto ao mais, nosso empenho no campo econômico embora inspirando-se na autonomia das realidades seculares, e por conseguinte regulado por leis específicas, destina-se ao testemunho transparente da consagração religiosa e à missão juvenil salesiana. Trataremos portanto, também de assuntos técnicos e especializados, mas é providencial que sejam inseridos na ampla realidade da nossa identidade de consagrados a Deus para a missão juvenil.

Pretendo adentrar-me na análise da carta do Reitor Maior em dois momentos diversos, de acordo com o programa. No primeiro encontro proponho que o conteúdo da carta seja apresentado em seus pontos essenciais, unindo-o diretamente à reflexão do CG24. No segundo momento, de acordo com o comentário surgido no mesmo número dos ACG, apresentarei algumas problemáticas mais operativas e concretas sobre as quais, creio, serão também úteis uma análise grupal e as oportunas integrações às realidades vividas pelas Inspetorias brasileiras.

2.     Do G24:A comunidade dos consagrados alma da CEP

(Capítulo II da III parte Olhando o futuro).

O CG24 sublinha claramente, justamente para evidenciar que a missão salesiana é conduzida por diversas identidades complementares. Dom Bosco quis consagrados no centro de sua obra: Mas a alguns ele pediu mais: pediu que ficassem com ele para sempre, que se empenhassem pelos jovens com tempo e existência totais, entregando a própria vida na seqüela de Cristo obediente, pobre e casto, com um serviço fiel a Deus e aos jovens. (CG24, 149). Os religiosos deviam ser ponto de referimento do seu carisma , justamente através de sua própria dedicação total. Os salesianos consagrados são nos diversos contextos 'Dom Bosco de hoje'(CG24, 150) para os jovens com os quais contatam e para os leigos com quem condividem a missão juvenil.

No n. 152 do CG24 sublinha-se em particular o valor da pobreza livremente abraçada pelo Reino, entendida como 'imitação da escolha radical de Cristo' e se apresentam os seguintes passos:

-      A escolha dos 'últimos, os pobres, as classes populares, os jovens';

-      A partilha com os pobres, recusando a segurança das estruturas, do estipêndio do domínio.

-      A única segurança de Deus, come única segurança ,e riqueza fundamental.

-       O dinamismo, proposto internamente pela CEP, para o triunfo da justiça, da solidariedade, da caridade.

O ponto de partida para a reflexão que faremos sobre a pobreza, não pode ser outro. Quer por uma questão de método, quer para uma correta orientação sobre a leitura dos conteúdos. Pe. Vecchi afinal está propondo para toda a Congregação, como já o fizeram seus predecessores, uma atualização dos votos, entendendo deste modo concretizar a programação do sexênio, inspirada no grande e empenhativo programa delineado pelo CG24. Segundo esta luz, devemos também refletir sobre a pobreza, relevando o específico do testemunho Salesiano SDB na pluralidade de identidade que convergem na CEP para realizar a missão salesiana.

3.     A Carta do Reitor Mor evoca imediatamente o CG24

Acho, necessário, antes de analisar a estrutura e os conteúdos da carta, evidenciar algumas expressões que me parecem ser um eco direta e imediatamente da reflexão do CG24 e que encontro no parágrafo, cujo título é 'Liberdade e destaque'.

*        Jesus é o maior dom: 'No encontro com Jesus e na sua pessoa, descobrimos bens infinitamente superiores aos temporais, que contudo, têm seus próprios valores. Tal é o sentido de nossa pobreza.'(pág.5). Isto nos diz muito a nós ecônomos, segundo a perspectiva entre a gestão dos bens que devem ser sempre funcional e orientada para 'bens de outra natureza'.

*        De acordo com este prisma, fazendo eco à expressão do CG24, 'a suficiência de Deus'(152), Pe. Vecchi sublinha como se fosse uma temática subjacente a todas, o destaque 'porque os bens temporais estão aquém de nosso desejo e descobrimos outros superiores' que 'se aplicam aos afetos, à saúde, à liberdade individual, ao poder, à própria preparação cultural, à suficiência de nossa inteligência, aos meios materiais, à nossa vontade e às nossas decisões: Em tal sentido a pobreza converge e se confunde com a obediência '(pag.6).

*        É por conseguinte evidente que a pobreza é vista sobretudo a nível de convencimento e de posicionamento interior, antes que com gestos esternos e visíveis. 'A pobreza precisa tê-la no coração,' segundo a expressão de Dom Bosco. 'Compreendemos porque o «pobre» na Escritura, representa não só quem se limita no uso dos bens materiais, mas quem entrou no mistério da existência humana, necessitada do infinito de Deus '(pag.6).

4.    A estrutura da Carta

I.                    Introdução : referência ao GC24, objetivos da carta, sugestão a uma leitura criativa.

II.                 A nossa pobreza.

Esta primeira parte da carta é uma apresentação da nossa tradição salesiana no que diz respeita à pobreza, segundo foi codificada pelas Constituições renovadas, em união direta com Dom Bosco e tendo em vista o contexto hodierno. Fundamento e horizonte do nosso empenho concreto de pobreza são as duas grandes realidade da comunidade e da missão. Os pontos oferecidos pela carta são os seguintes:

      i.        Liberdade e destaque

     ii.        Investir na comunidade: em sentido amplo quer com respeito ao objeto a ser compartilhado, quer relativamente aos sujeitos com os quais se compartilha.

Solidariedade e partilha: 'A solidariedade com os pobres gera posicionamento de partilha: presença física, sobretudo onde pobreza significa degradação, insuficiência de condições essenciais, carências educativas, ausência de perspectiva. E com a presença, também partilha das condições de vida, participação no esforço para reerguer-se. '(pag.8).

  iii.        Sinal da missão salelsiana: nossa pobreza tende a se exprimir em um serviço concreto, a fim de que «desapego do coração» seja dirigido a «serviço dos irmão»:

-         Os recursos estão a serviço dos jovens; neste sentido somos audaciosos;

-         Incidência social de nossa missão com valores educativos: o bem comum, as justiça, a atenção aos fracos, e aqueles em desvantagem.

   iv.        Trabalho e temperança: A espiritualidade da ação apostólica une o trabalho à pobreza e também à temperança, referindo-se quer ao estilo de vida dos vários irmãos, que ao ritmo de vida das mesmas comunidades.

    v.        Administrar com sabedoria: '.nossa pobreza inclui a boa administração dos bens: precisa, vigilante no prever, sábia em dispor, transparente e comunitariamente co-responsável. '(pág. 15).

III.               Os desafios hodiernos (Carta, p. 16-19).

Nesta segunda parte da carta o Reitor Maior, examina, especificando algumas, as tendências dos costumes de hoje, que freqüentemente são contrárias ao quadro de referência supramencionado e portanto exigem de nós uma constante verificação da qualidade de nosso testemunho.

      i.        O mundo está dividido pela posse dos bens:

-         várias são as velocidades na estrada do desenvolvimento;

-         mentalidade consumística;

-         no contextos mais pobres: corajoso discernimento:

     ii.        A prevalência do valor econômico e a importância do dinheiro no sistema econômico social:

-         o dinheiro prevalece ao trabalho;

-         solidariedade mais ágil e crescente ;

-         os benfeitores e a Providencia.

   iii.        A complexidade da gestão econômica

-         custos elevados de nossas estruturas;

-         conseqüências comerciais de nossas atividades, imposições fiscais, observância no campo do direito do trabalho;

-         necessidade de ingentes somas de dinheiro.

   iv.        A tendência de uma gestão autônoma da própria existência

-         tendência individualista na organização vida;

-         respeito e responsabilidade pessoal em relação às exigências do voto de pobreza.

IV.              Os ícones da pobreza salesiana (Carta, pp.19-30)

Seguindo as Constituições e a reflexão de Vida Consagrada, Dom Vecchi trabalha sobre três ícones bíblicos que ajudam um aprofundamento e orientação, projetando sobre eles o testemunho da pobreza de Dom Bosco.

      i.        O discípulo: aquele que segue Jesus

-         O aspecto cristológico da pobreza, entendido justamente como inserido no mistério de Cristo.

-         o esvaziamento em Cristo;

-        a dependência de um Outro;

-        a oração como característica do pobre.

     ii.        Uma alegre mensagem aos pobres

-         O aspecto eclesial da pobreza, entendida como chave da fecundidade da Igreja;

-         Os pobres: primeiros destinatários da missão;

-         A pobreza é conteúdo do anúncio;

-         O ensinamento de Jesus sobre a riqueza e sobre os bens;

-         Pobreza característica irrenunciável do missionário evangelizador.

  iii.        Os primeiros cristãos

-         O aspecto social, solidário da pobreza evangélica;

-         Comunhão e partilha em sentido amplo em um vastíssimo horizonte.

   iv.        A pobreza de Dom Bosco

*        orientado ao ideal de Jesus pobre;

-         pobreza pessoal e exigência da obra educativa;

-         distribuidor de esmolas para o bem da juventude;

-         irremovível confiança na Providência.

V.                 Algumas indicações para o hoje (Carta pp.30-37)

O Reitor Maior, depois de oferecida uma ampla base de motivações, apresenta algumas orientações para a praxe, insistindo sobre a necessidade de um sábio discernimento, concentrar-se sobre o essencial e confiar na memória interpretativa do Espírito.

      i.        Atenta responsabilidade

-         a virtude da vigilância;

-         o 'scrutinium paupertatis' em nível pessoal e comunitário para a austeridade profética.

     ii.        Direção apostólica dos bens.

-         Direção educativa, formativa e caritativa dos bens;

-         Critério de conservação dos bens: pronta disponibilidade apostólica;

-         Providencia e previdência.

   iii.        Solidariedade

-         dever constitucional;

-         responsabilidade do governo inspetorial;

-         plano periódico de solidariedade econômica.

   iv.        Educar para o uso dos bens

-         A idolatria do bem estar e a tendência ao consumo;

-         Visão cristã orientadora sobre os bens e sua gestão;

-         Formar os jovens para a dimensão social da caridade.

    v.        Amar os pobres em Cristo

-         Sentir-se pobre entre os pobres;

-         Consciência diferenciada da pobreza.

VI.              Conclusão

Na sua conclusão Dom Vecchi se inspira em Maria que canta no Magnifica a pobreza e se apresenta na tradição dos pobre de Javé: 'A história recomeça sempre pelos pobres e se abre para o futuro, sempre segundo a medida da própria esperança '.

5.      Indicações para aprofundamento

Dom Vecchi nos propôs uma leitura sobre a pobreza linear, imediata e certamente estimulante. Ele mesmo, na introdução, deseja que se faça nas comunidades uma leitura 'criativa'. desta carta, como de resto, também das demais. Justamente neste sentido pensei em vos propô-la por ocasião deste encontro dos ecônomos inspetoriais. Penso em uma leitura viva, precisamente porque a referência é à nossa vida de consagrados, a uma experiência que procuramos viver e não apenas a noções que procuramos assimilar de maneira isolada. Neste sentido nos organizaremos em grupo visando os 'desafios hodiernos' e as 'orientações para o hoje', tendo bem presente o quadro de referência. Recordemos todos o sonhos dos diamantes e os dois cenários que representam o rosto da Congregação. Com equilíbrio sereno, mas também com sentido de responsabilidade, nos confrontemos com as graves palavras do nosso fundador: 'Nossa Sociedade é abençoada pelos céus, mas Ele quer que acrescentemos nosso trabalho. Os males ameaçadores serão previstos, se nós pregarmos sobre as virtudes e vícios conhecidos. Se praticarmos o que pregamos, retransmiti-lo-emos aos nossos Irmãos com uma tradição prática do que se fez e faremos' (MB. Vol. XV, p. 187).

Hoje, o significado deste sonho e a preocupação de Dom Bosco nos interpelam e nos induzem a retornarmos às fontes regeneradoras da nossa consagração e à prática fiel da pobreza.