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Vão e testemunhem a alegria da fé. Carta ao Movimento Juvenil Salesiano 2013

 

(no Portugal)

Ide e testemunhai a alegria da fé
Aprendei a ser felizes tornando-vos discípulos de Cristo
 e missionários dos jovens

 
Carta de Dom Bosco aos Jovens do MJS

 

Caríssimos Jovens,

com esta carta queria chegar junto de todos e de cada um de vós e comunicar-vos o grande afeto que sinto por vós e dizer-vos o sonho constante que guardo no coração: que possais ser plenamente felizes, levando dentro de vós toda a plenitude da humanidade do Senhor Jesus e exprimindo na vossa vida uma adesão plena e testemunhante aos valores do Evangelho. Estou a escrever-vos numa altura em que tanto se fala de Nova Evangelização. Em muitos dos nossos países, Deus parece ter-se tornado um desconhecido, uma pessoa sem a qual se pode passar. Precisamente por isso, hoje, ressoa com mais força a ordem de Jesus: «Ide e fazei discípulos de todos os povos… Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28,19.20). A missão que Jesus nos indica é um terreno semeado de desafios, mas também rico de grandes oportunida-des. A missão constitui um providencial anseio de colaboração entre o premente convite de Bento XVI dirigido à Igreja Universal, para que viva com intensidade este Ano da Fé, e o caminho que a nossa Família Salesiana iniciou rumo ao Bicentenário do meu nascimento.

Permiti que vos diga que então os tempos eram difíceis. Valdocco era uma verdadeira terra de missão… Todavia a presença sensível de Jesus e de Maria nas canseiras do serviço educativo cumulava de alegria o meu coração. Daquela terra de missão, como todos vós bem sabeis, partiram muitos jovens missionários para evangelizar povos e terras distantes. Jovens crescidos no oratório, que escreveram sublimes páginas de história, dando pessoalmente as suas vidas pela educação, pela promoção humana e pela evangelização de muitas gerações de jovens. Esta história de fidelidade e de generosidade, queridos Jovens, continua hoje com todos vós e é um desafio para vós. Neste livro faltam as páginas que só vós podeis escrever. Esta é a vossa hora!
Os ensinamentos de Jesus continuam a ecoar nos nossos dias, com a mesma força: “Trabalhai, não pelo alimento que desaparece, mas pelo alimento que perdura e dá a vida eterna” (Jo 6,27). A interrogação feita por aqueles que o escutavam é a mesma que ressoa dentro de nós, hoje: “Que havemos nós de fazer para realizar as obras de Deus?». Conhece-mos a resposta de Jesus: «A obra de Deus é esta: crer naquele que Ele enviou» (Jo 6,29). A obra de Deus em vós é serdes discípulos que acolhem com amor a Palavra de Deus, e nela encontram Cristo Jesus. Ser apóstolos que a transmitem com alegria é a vocação de cada cristão. A fé, com efeito, cresce no momento em que nos tornamos disponíveis para a transmitir aos outros. Evangelizar é a vossa vocação, Queridos Jovens!

Evangelizar significa pôr na massa um fermento capaz de mudar a menta-lidade e o coração das pessoas e, através delas, as estruturas sociais, de forma que estejam mais de acordo com o desígnio de Deus. Não se trata de uma atividade intimista; evangelizar é desencadear uma verdadeira revolução social, a mais profunda, a única eficaz. Para evangelizar é necessário ter um motivo: estar “enamorados” de Deus, ter feito experiência da sua amizade e da sua intimidade. Neste processo, a atenção deve concentrar-se antes de tudo no nosso coração. Exatamente ali onde se formam os pensamentos e as opções: o coração deve ser limpo de sujidade. Isto exige transparência, capacidade de mergulhar em si mesmo e de pôr tudo a nu, diante do Senhor, os motivos mais verda-deiros dos nossos comportamentos. A verdade dos gestos requer pureza das motivações.

A vontade de comunicar a Boa Nova nasce da superabundância do coração de uma pessoa que foi apanhada por Jesus: uma pessoa profun-damente integrada e unificada em torno do único amor de Deus. Trata-se de um amor único porque é central, único porque tem a precedência sobre todos os outros afetos do coração. Puro de coração é aquele que de forma autêntica busca e testemunha Deus. Aquele que, acima de tudo, com toda a sua pessoa, busca o Reino de Deus e a sua justiça. Recordan-do a minha vida devo dizer-vos que, desde pequeno, uma só coisa pedia ao Senhor: “Da mihi animas! Concede-me trabalhar por Ti, pela salvação dos jovens!”.
 
Por isso, antes que o Evangelho ocupe a vossa mente e seja causa das vossas fadigas, deverá ser acolhido na vossa vida e deverá tornar-se a nascente da vossa alegria. Jesus não confia o seu Evangelho a quem não Lhe deu a sua própria vida. Só discípulos autênticos podem ser apóstolos credíveis. O mundo juvenil, sabeis bem, é terra de missão exigente. Saí, portanto, da vossa minúscula, estreita e asfixiante casca. Entrai no vasto mundo de Deus. Ele escancara-vos as portas de uma grande missão, a fim de poderdes sair de vós mesmos e encontrar os grandes espaços, para que possais ir para longe, rumo a novos horizontes, para os quais fostes pensados e sonhados por Deus. Estes horizontes não são necessariamen-te longe de vós. Deus chama-vos, sobretudo, a traduzir e a incarnar a vossa fé no dia-a-dia, naquele tempo comum que, se não for atravessado pela luz da ressurreição, é capaz de esmagar o coração do homem.

Muitos jovens, sabeis bem, não “moram no seu próprio coração”, vivem “distraídos”. São atraídos por mil coisas; percorrem mil carreiros e, sobretudo, são tiranizados e escravizados por mil senhorios. Moram “algures”, em toda a parte, mas não no coração, com a consequência de não tornar possível o encontro com Deus que, ao invés, se realiza mesmo neste lugar tão precioso, tão pessoal e tão secreto: o coração. No coração de cada pessoa, com efeito, há uma ferida, uma grande dor que precisa de ser escutada, compreendida e curada. Por isso Jesus tem necessidade também hoje de discípulos capazes de escutar o coração das pessoas, especialmente dos jovens. Discípulos capazes de compreender nas suas alegrias e nos seus medos, uma vontade, nem sempre expressa, de se aproximar d’Ele e de se encontrar com Ele. Só o discípulo que tem uma relação profunda com o Senhor Jesus pode distinguir, entre aqueles que O buscam, quem verdadeiramente deseja compartilhar a sua experiência de Deus. 

O discípulo que segue Jesus é chamado a facilitar o encontro com Ele a quantos O querem ver, conhecer e amar. Esta é uma missão delicada e maravilhosa e, se vós o não fizerdes, queridos Jovens, quem apresentará a Jesus os sonhos e as necessidades dos vossos companheiros, dos vossos amigos? Quem os levará a ver Jesus? Compete-vos indicar Jesus aos vossos amigos como a luz que ilumina de sentido a sua busca, como o caminho que conduz ao coração do Pai, como a verdade que aquece o coração para viver a vida com paixão. Vós sois o fogo de um novo Pente-costes, que queima e contagia tantos outros vossos amigos. Juntos, podeis lutar pela liberdade onde ela falta, pela paz onde está ameaçada, pela justiça onde ela é espezinhada, pela solidariedade onde é mais necessária. Vós podeis ser a consciência crítica da sociedade em que viveis. Levantai-vos, portanto, saí do cenáculo e ide, porque o mundo precisa de vós.

Mas lembrai-vos sempre de que só Cristo é capaz de curar e de preencher as lacerações profundas e dolorosas do coração dos jovens. Portanto, para que este encontro se torne fecundo, deve aceitar-se fazer um caminho especial: é necessário passar da admiração ao conhecimento e do conhecimento à intimidade, da intimidade ao enamoramento, do enamoramento ao seguimento e à imitação. 

O encontro inicial transforma-se por fim em verdadeiro encontro, quando Jesus “se deixa ver” e a sua Palavra põe a nu o coração do homem, libertando-o de perceções de Deus mascaradas e falseadas, de uma visão incorreta de si mesmo, dos outros e dos acontecimentos. É o que aconteceu aos dois discípulos de Emaús (Lc, 24, 13-35). Caminhavam, cheios de tristeza e desalento, porque tinham vivido com Jesus e a convivência tinha despertado neles as melhores esperanças. Ao invés, a sua morte na cruz tinha sepultado todas as suas esperanças e a sua fé. Ao longo do caminho, Jesus faz-se companheiro de viagem compartilhando tristeza e amarguras e, ao mesmo tempo, desvelando o sentido do que acontecera, relendo-lhes as Escrituras. Acerta o seu passo com uma paciente e sofrida busca, abrindo gradualmente os olhos da sua mente e do seu coração à compreensão do mistério, da história e do mundo. A sua busca é sincera, mas os seus olhos para contemplar o Ressuscitado apenas se abrem quando Ele repete o gesto que melhor O identifica: “partir o pão”. Tal descoberta é fruto da sua busca, mas teria sido impossível sem a explicação das Escrituras e sem a oferta de um sinal da parte de Jesus. Sobretudo é um dom: eles “reconheceram-n’O”, porque Jesus “se deu a conhecer”. Reconhecer Jesus no hóspede é o momento culminante do encontro, mas não é o último. Há um passo ulterior que manifesta a fecundidade do encontro pessoal com Jesus, o que nos leva da comunhão à missão, da experiência pessoal – “ardia-nos cá dentro o coração” – ao testemunho – “regressaram a Jerusalém onde encontraram os Onze reunidos”. Os discípulos voltam ao lugar onde decorria habitual-mente a sua vida, mas com olhos novos e um coração novo.

Também vós, meus Queridos Jovens, não podeis viver a vossa fé de forma solitária. A nossa salvação está fora de nós mesmos; não a encontramos na ciência, nem na economia nem na política, mas só em Jesus Cristo, morto e ressuscitado por nós. Regressai, portanto, com olhos novos e coração novo ao lugar onde Jesus, hoje, se torna presente e habita: a Igreja. Ide ao encontro da comunidade dos crentes, daqueles que confessam Jesus como seu Senhor, a família dos seus discípulos, daqueles que compartilham com Ele vida e missão. Queridos Jovens, pode aconte-cer que muitas coisas, no contexto humano da Igreja, vos desiludam. Pode mesmo acontecer que vos sintais incompreendidos, não tomados a sério. É verdade, a Igreja por vezes desilude-nos, por vezes perturba-nos, mas sempre nos fascina, porque é uma realidade cujas fronteiras passam por dentro de nós, porque é um abraço de mãe sobre nós, o lugar visível da nossa identidade, a zona de encontro com o Deus de Jesus Cristo e com os homens vistos como nossos irmãos e irmãs. Escutai, por isso, as palavras de um pai que sofreu, mas que sempre amou a Igreja: Não, Queridos Jovens, não vos separeis da Igreja! Nenhuma realidade é tão rica de esperança, de compaixão e de amor. Ela nunca envelhece: a sua juventude é eterna. É a continuação, a morada e a vida no Espírito. Reparte-vos o pão da Palavra e oferece-vos os dons preciosos dos sacra-mentos, em particular da Reconciliação e da Eucaristia. Sem a experiência que se encontra neles, o conhecimento de Jesus resulta inadequado e insuficiente. Eles são a memória verdadeira de Jesus: daquilo que Ele realizou e realiza ainda hoje por nós, daquilo que significa para a nossa vida. Na Reconciliação experimentamos a bondade de Deus que é fonte da nossa liberdade interior e reconstrói e aperfeiçoa o tecido da nossa vida: os nossos olhos abrem-se para uma nova criação e vemos aquilo que podemos ser segundo o projeto e o desejo de Deus. É o sacramento do nosso futuro, mais do que do nosso passado de pecadores. Na Eucaris-tia, que a comunidade cristã diariamente celebra, é posta uma dupla mesa, onde o crente reforça a sua própria vida e se alimenta do único Senhor que é Palavra e Corpo entregue. Na Escritura e na Eucaristia, a Igreja reconhece, recebe e assimila o Corpo do Senhor e ela mesma se edifica como tal.

A estes dons que vos são oferecidos pela Igreja como graça, deveis unir uma atitude constante de contemplação e de oração. A contemplação, que se faz oração, é manter-se aberto a toda a plenitude que o Pai quer infundir nos vossos corações, através do seu Santo Espírito. Para vós hoje, evangelizadores e educadores dos jovens do terceiro milénio, a Palavra proclamada e partilhada, contemplada na oração, é indispensável para crescer na fé. Fé que deve fazer-se escuta do grito dos pobres, dos abandonados, dos excluídos, e traduzir-se em gestos de caridade concre-ta, que tornem visível Deus, o seu Amor.

É neste amor, recebido gratuitamente, que se funda a urgência de evangelizar. Só de um grande amor pode brotar uma grande paixão pela salvação dos outros e a alegria de compartilhar a plenitude de uma vida radicada em Jesus. Quem se encontrou com o Senhor não pode ficar em silêncio: deve proclamá-l’O. Ficar calado significaria matá-l’O segunda vez. Ide, portanto, Queridos Jovens discípulos de Cristo, e mostrai ao mundo que a fé traz uma felicidade e uma alegria verdadeira, plena e duradoura.

No Bicentenário do meu nascimento, quero renascer convosco para continuar a fazer dos jovens a razão da minha vida, a preciosa herança que me tocou em sorte, a minha missão. Convosco quero amá-los com aquele mesmo amor que podemos encontrar no coração do Bom Pastor. Isto é possível, mesmo que as condições sociais e culturais tenham mudado. Como é meu costume, não usarei formas abstratas ou teóricas ou ideológicas, mas sim aquela pedagogia da bondade que coloca a educação num incessante processo de adaptação, de conversão humana, espiritual, pastoral, sabendo acolher todas as mudanças, mas referindo-as às razões mais verdadeiras e profundas do crescimento humano e do amadurecimento cristão. Estou cada vez mais convencido de que a educação é coisa de coração, ou melhor, que o coração deve ser educado, porque no amor os jovens apostam a sua vida.

No ano da fé quero estar convosco nesta estupenda missão que envolve toda a Igreja. A cada um de vós digo as mesmas palavras que repetia aos meus rapazes de Valdocco: “Um só é o meu desejo: ver-vos felizes no tempo e na eternidade”. Para serdes felizes e para que a Boa Nova da salvação seja acolhida por todos, procurai fazer-vos amar. Para que o mundo creia e acreditando se salve, procurai fazer-vos amar. Para que caiam os muros da divisão, da incompreensão, dos preconceitos e da rejeição da Igreja, procurai fazer-vos amar. Para que tu, jovem crente e missionário de Cristo, para que tu possas ser feliz, considerado credível e com autoridade, procura fazer-te amar! Juntamente, para os jovens, seremos anunciadores mansos e corajosos do Evangelho, pela fé e com amor. Assim vos sonho, meus Queridos: “jovens para os jovens”, compa-nheiros de Jesus e suas testemunhas, cheios de entusiasmo por tudo o que é a vida, mas profundamente enraizados na vida do Senhor Jesus.

De todo o coração confio estas minhas palavras, como dom do Bicente-nário, a Maria Mãe de Jesus. A Ela que “acreditou no cumprimento das palavras do Senhor” (Lc 1,45), e se entregou a si mesma a Deus, por amor do Filho e dos filhos. Maria, inspiradora e sustentáculo da nossa Família, desperte o coração filial que dorme em cada homem, o homem novo, e o povo novo, a Igreja. Queridos Jovens, Maria Imaculada Auxiliadora vos dê o sentido vivo de Cristo, um grande amor apostólico para comunicar as riquezas do seu mistério, a inteligência criativa e a competência pedagó-gica para educar os vossos amigos para a fé em Cristo. Esta será, para vós, a maneira de responder aos desafios da Nova Evangelização. Maria, a Mãe de Jesus, a nossa querida Mãe, interceda para que o nosso testemu-nho de crentes e de educadores seja sempre credível.

Abençoo-vos, marco encontro convosco na Jornada Mundial da Juventu-de no Rio de Janeiro, em meados de julho, e despeço-me abraçando-vos a todos com afeto de pai, de irmão e de amigo.

Valdocco, 31 janeiro 2013

(no Brasil)

Vão e testemunhem a alegria da fé
Aprendam a ser felizes sendo discípulos de Cristo e missionários dos jovens

 

Carta de Dom Bosco aos Jovens do Movimento Juvenil Salesiano

(no Brasil: da Articulação da Juventude Salesiana) 

Queridos Jovens,

Com esta carta, gostaria de me aproximar de todos e de cada um de vocês. Gostaria de comunicar o grande afeto que tenho por vocês e falar do constante sonho que conservo no coração: que vocês possam ser plenamente felizes, trazendo dentro de si a plenitude da humanidade do Senhor Jesus e exprimindo em suas vidas uma adesão plena e testemunhante dos valores do Evangelho. Escrevo-lhes num tempo em que se fala muito de Nova Evangelização. Em muitos dos nossos países, parece que Deus se tornou desconhecido, alguém que se pode dispensar. Justamente por isso, hoje ressoa mais forte a ordem de Jesus: «Vão e façam discípulos todos os povos... Eis que estou com vocês todos os dias, até o fim do mundo» (Mt 28,19.20). A missão que Jesus nos indica é um terreno cheio de desafios, mas também fecundo de grandes oportunidades. Ela constitui um anseio providencial de união entre o convite urgente de Bento XVI dirigido a toda a Igreja, para que viva intensamente este ano da fé, e a caminhada iniciada pela nossa Família Salesiana em vista do Bicentenário do meu nascimento.

Permitam-me dizer que naquela época os tempos também eram difíceis. Valdocco era uma verdadeira terra de missão... Entretanto, a presença de Jesus e de Maria que se sentia no empenho do serviço educativo enchia-me o coração de alegria. Daquela terra de missão, como vocês sabem, partiram muitos jovens missionários para evangelizar povos e terras distantes. Jovens crescidos no oratório, que escreveram páginas sublimes de história, entregando generosamente a própria vida à educação, à promoção humana e à evangelização de muitas gerações de jovens. Esta história de fidelidade e generosidade, queridos Jovens, continua hoje com vocês e é um desafio para vocês. Faltam neste livro as páginas que só vocês poderão escrever. Esta é a sua hora!

O ensinamento de Jesus ainda ressoa em nossos dias com a mesma força: “Busquem não o alimento que perece, mas o alimento que permanece para a vida eterna” (Jo 6,27). A questão colocada por seus ouvintes é a mesma que ainda ressoa em nós: “O que devemos fazer para realizar as obras de Deus?”. Conhecemos a resposta de Jesus: “Esta é a obra de Deus: que vocês creiam n’Aquele que ele enviou” (Jo 6,29). A obra de Deus em vocês é que sejam discípulos acolhedores amorosos da Palavra de Deus e, nela, encontrem Cristo Jesus. Ser apóstolos que a transmitem alegremente é a vocação de todo cristão. A fé cresce, de fato, no momento em que nos tornamos disponíveis para transmiti-la aos outros. Evangelizar é a vocação de vocês, queridos Jovens!

Evangelizar significa colocar na massa um fermento capaz de mudar a mentalidade e o coração das pessoas e, através delas, as estruturas sociais, de tal modo que sejam mais adequadas ao plano de Deus. Não se trata de uma ação intimista, pois evangelizar é difundir uma verdadeira revolução social, a mais profunda, a única eficaz. Para evangelizar é preciso ter uma motivação: ser “apaixonados” por Deus, fazer experiência da sua amizade e da sua intimidade. Nesse processo, a atenção deve ser concentrada primeiramente em nosso coração. Exatamente ali, onde se formam os pensamentos e as escolhas; por isso, o coração deve ficar livre de poluições, o que requer transparência, capacidade de retornar a si mesmos e expor com clareza, diante do Senhor, as motivações mais verdadeiras dos nossos comportamentos. A verdade dos gestos exige pureza de motivações.

A vontade de comunicar a Boa Notícia nasce da superabundância do coração de quem foi agarrado por Jesus: alguém profundamente integrado e unificado ao redor do único amor de Deus. Trata-se de um amor único porque central; único porque tem precedência sobre os demais afetos do coração. Puro de coração é o autêntico pesquisador e testemunha de Deus. Aquele que acima de qualquer coisa, com todo o seu ser, busca o Reino de Deus e a sua justiça. Ao recordar a minha vida devo dizer-lhes que desde jovem eu só pedia uma coisa a nosso Senhor: “Da mihi animas! Concede-me trabalhar para Ti, para a salvação dos jovens!”.

Antes de o evangelho ocupar a mente de vocês e ser a causa de seus esforços, deverá ser, portanto, acolhido em suas vidas e tornar-se a fonte da sua alegria. Jesus não confia o seu evangelho a quem não lhe confiou a própria vida. Somente os discípulos autênticos serão apóstolos críveis. O mundo juvenil, vocês bem o sabem, é terra de uma missão exigente. Saiam, portanto, de seu minúsculo, fechado e asfixiante casulo. Entrem no vasto mundo de Deus. Ele escancara-lhes as portas de uma grande missão, para poderem sair de si mesmos e encontrarem os grandes espaços, para saírem na direção de novos horizontes, os horizontes para os quais foram pensados e sonhados por Deus. Esses horizontes não estão necessariamente distantes de vocês. Deus os chama, sobretudo, para traduzirem e encarnarem a própria fé no cotidiano, nos dias feriais; fé que, se não for confirmada pela luz da ressurreição, é capaz de fragmentar o coração humano.

Muitos jovens, vocês o sabem muito bem, não “habitam o próprio coração”, vivem “distraidamente”. São atraídos por mil coisas; caminham por mil caminhos e, sobretudo, são tiranizados por mil senhores e a eles se submetem. Eles habitam “outro lugar”, todos os lugares, menos o coração, com a consequência de não ser possível o encontro com Deus que acontece justamente neste lugar tão preciso, tão pessoal e tão secreto: o coração. Há, de fato, no coração de cada pessoa uma ferida, uma grande dor que pede para ser ouvida, compreendida, curada. Para isso, Jesus precisa ainda hoje de discípulos capazes de escutar o coração das pessoas, especialmente dos jovens. Discípulos capazes de compreender, em suas alegrias e em seus temores, a vontade nem sempre expressa, de aproximar-se d’Ele e de encontrá-lo. Só o discípulo que mantém uma relação profunda com o Senhor Jesus pode perceber, entre os que o cercam, quem deseja realmente compartilhar a sua experiência de Deus.

 O discípulo que segue Jesus é chamado a facilitar o encontro com Ele por parte daqueles que o querem ver, conhecer e amar. Trata-se de uma missão delicada e admirável, e se vocês não a realizarem, queridos jovens, quem apresentará a Jesus os sonhos e as carências de seus companheiros, de seus amigos? Quem fará com que vejam Jesus? Cabe a vocês indicar Jesus aos seus amigos, como a luz que ilumina de sentido a busca que fazem, como o caminho que conduz ao coração do Pai, como a verdade que aquece o coração para viver a vida com paixão. Vocês são o fogo de um novo Pentecostes, que inflama e contagia muitos outros de seus amigos. Ao mesmo tempo, podem lutar pela liberdade onde ela está em falta, pela paz onde ela é ameaçada, pela justiça onde ela é humilhada, pela solidariedade onde ela é mais necessária. Vocês podem ser a consciência crítica da sociedade em que vivem. Levantem-se, pois, saiam do cenáculo e caminhem, porque o mundo precisa de vocês.

Recordem-se, porém, que somente Cristo é capaz de curar e aliviar as dilacerações profundas e sofredoras do coração dos jovens. Depois, para que esse encontro se torne fecundo, deve-se aceitar trilhar um determinado caminho: é preciso passar da admiração ao conhecimento, do conhecimento à intimidade, da intimidade ao encantamento, do encantamento ao seguimento e à imitação.

O encontro inicial transforma-se, enfim, num verdadeiro encontro, quando Jesus “se deixa ver” e a sua Palavra manifesta o coração do homem, libertando-o de percepções mascaradas, falseadas de Deus, de uma visão não correta de si mesmos, dos outros, dos acontecimentos. É o que aconteceu com os dois discípulos de Emaús (Lc 24,13-35). Caminhavam com o rosto triste e o coração desesperançado porque conviveram com Jesus e a convivência despertara neles as melhores esperanças. Entretanto, a morte d’Ele na cruz sepultara todas as suas expectativas e a sua fé. Ao longo do caminho, Jesus se faz companheiro de viagem compartilhando tristeza e amargura e, ao mesmo tempo, revelando o sentido do que acontecera relendo as Escrituras para eles. Regula o próprio ritmo à paciente e sofrida busca, abrindo gradualmente os olhos da mente e do coração deles à inteligência do seu mistério, da história e do mundo. A busca deles é sincera, mas seus olhos só se abrem para contemplar o Ressuscitado quando Ele repete o gesto que mais O identifica: “partir o pão”. Tal descoberta é fruto da busca que fizeram, mas teria sido impossível sem a explicação das Escrituras e a oferta de um sinal da parte de Jesus. Trata-se, sobretudo, de um dom: eles “O reconheceram”, porque Jesus “se deu a conhecer”. Reconhecer Jesus no hóspede é o momento culminante do encontro, mas não o último. Há outro passo a dar que manifesta a fecundidade do encontro pessoal com Jesus, o passo que nos leva da comunhão à missão, da experiência pessoal – “ardia o nosso coração” – ao testemunho – “retornaram a Jerusalém onde encontraram os Onze reunidos”. Os discípulos retornam ao lugar onde a vida deles se desenvolvia habitualmente, mas com olhos novos e o coração renovado.

Vocês, também, meus queridos Jovens, não podem viver solitariamente a própria fé. A nossa salvação está fora de nós: não a encontramos na ciência ou na economia ou na política, mas somente em Jesus Cristo, morto e ressuscitado para nós. Retornem, pois, com olhos novos e coração renovado ao lugar onde Jesus, hoje, se faz presente e habita: a Igreja. Encontrem a comunidade dos crentes, daqueles que confessam Jesus como seu Senhor, a família dos seus discípulos, daqueles que compartilham com Ele vida e missão. Queridos Jovens, pode acontecer que muitas coisas, no contexto humano da Igreja os desiludam. Também pode acontecer que se sintam incompreendidos, não levados a sério. É verdade, a Igreja, às vezes, nos desilude, às vezes, nos confunde, mas sempre nos fascina, porque é uma realidade cujas fronteiras passam por dentro de nós, porque é o abraço de uma mãe que nos envolve, o lugar visível da nossa identidade, a zona de encontro com o Deus de Jesus Cristo e com os homens contados como nossos irmãos e irmãs. Escutem, por isso, as palavras de um pai que sofreu, mas sempre amou a Igreja: Não, queridos Jovens, não se separem da Igreja! Nenhuma realidade é tão rica de esperança, de compaixão, de amor. Ela jamais envelhece: a sua juventude é eterna. É a continuação, a morada, a presença atual de Cristo, lugar onde ele dispensa a graça, a verdade e a vida no Espírito. Parte-lhes o pão da Palavra e oferece-lhes os dons preciosos dos sacramentos, em particular a Reconciliação e a Eucaristia. Sem a experiência que neles se encontra, o conhecimento de Jesus torna-se inadequado e escasso. Eles são a memória verdadeira de Jesus, daquilo que ele fez e ainda faz hoje por nós, daquilo que significa para nossa vida. Na Reconciliação, experimentamos a bondade de Deus que é fonte da nossa liberdade interior e reconstrói e aperfeiçoa o tecido da nossa vida: os olhos se abrem para uma nova criação e vemos que podemos viver segundo o projeto e o desejo de Deus. É o sacramento do nosso futuro, não do nosso passado de pecadores. Na Eucaristia, que a comunidade cristã celebra todos os dias, prepara-se uma dupla mesa, em que o crente avigora a própria vida e se nutre do único Senhor que é Palavra e Corpo repartido. Na Escritura e na Eucaristia, a Igreja reconhece, acolhe e assimila o Corpo do Senhor e ela mesma se edifica como tal.

A estes dons, que lhes são oferecidos pela Igreja como graça, vocês devem unir uma atitude constante de contemplação e oração. A contemplação, que se faz oração, é permanecer abertos à plenitude que o Pai quer infundir em seus corações, mediante o Santo Espírito. Para vocês, hoje, evangelizadores e educadores dos jovens do terceiro milênio, é indispensável para crescer na fé a Palavra proclamada e compartilhada, e contemplada na oração. Fé que deve ser escuta do clamor dos pobres, dos abandonados, dos excluídos, e traduzir-se em gestos de caridade concreta, que tornam visível Deus, o seu Amor.

É neste amor, recebido gratuitamente, que se funda a urgência de evangelizar. Só de um grande amor pode brotar uma grande paixão pela salvação dos outros e a alegria de compartilhar a plenitude de uma vida enraizada em Jesus. Quem encontrou o Senhor não pode ficar em silêncio; deve proclamá-lo. Permanecer em silêncio significaria matá-lo pela segunda vez. Vão, portanto, queridos Jovens discípulos de Cristo, e mostrem ao mundo que a fé traz a felicidade e a alegria verdadeira, plena e duradoura.

No Bicentenário do meu nascimento, quero renascer com vocês para continuar a fazer dos jovens a razão da minha vida, a herança preciosa que me coube por sorte, a minha missão. Com vocês, quero amá-los com o mesmo amor que podemos beber no coração do Bom Pastor. Isso é possível, mesmo que as condições sociais e culturais tenham mudado. Como é meu costume, não recorrerei a formas abstratas ou teóricas ou ideológicas, mas à pedagogia da bondade que põe a educação num processo incessante de adaptação, de conversão humana, espiritual, pastoral, sabendo acolher todas as mudanças, mas levando-as às razões mais verdadeiras e profundas do desenvolvimento humano e do amadurecimento cristão. Estou sempre mais convencido de que a educação é coisa do coração, ou melhor, que o coração deve ser educado, porque os jovens jogam a própria vida no amor.

No ano da fé, quero estar com vocês nesta extraordinária missão que envolve a Igreja inteira. A cada um de vocês, digo as mesmas palavras que repetia aos meus jovens de Valdocco: “Um só é o meu desejo, vê-los felizes no tempo e na eternidade”. Para serem felizes e a Boa Notícia da salvação ser acolhida por todos, procurem fazer-se amar. Para que o mundo creia e crendo se salve, procurem fazer-se amar. Para que caiam os muros da divisão, da incompreensão, dos preconceitos e da rejeição à Igreja, procurem fazer-se amar. Para que você, jovem crente e missionário de Cristo, seja feliz, aceito como crível e autorizado, procure fazer-se amar! Juntos, pelos jovens, seremos anunciadores bondosos e corajosos do Evangelho, pela fé e com amor. Eu sonho vocês assim, meus queridos: “jovens para os jovens”, companheiros de Jesus e suas testemunhas, cheios de entusiasmo por tudo o que seja a vida, mas profundamente enraizados na vida do Senhor Jesus.
Como presente do Bicentenário, entrego de coração estas minhas palavras a Maria Mãe de Jesus. A Ela, que “acreditou na realização das palavras do Senhor” (Lc 1,45), e entregou-se a si mesma a Deus, por amor do Filho e dos filhos. Maria, inspiradora e defensora da nossa Família, desperte novamente o coração filial que dorme em todo homem, o homem novo, e na Igreja, o povo novo. Queridos Jovens, Maria Imaculada Auxiliadora dê-lhes o sentido vivo de Cristo, um grande amor apostólico para comunicar as riquezas do seu ministério, inteligência criativa e competência pedagógica para educar seus amigos na fé em Cristo. Será este, para vocês, o modo de responder aos desafios da Nova Evangelização. Maria, a Mãe de Jesus, a nossa querida Mãe, interceda para que o nosso testemunho de crentes e educadores seja sempre crível.

Dou-lhes a minha bênção, marcando um encontro com vocês, em meados de julho, na Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, enquanto cumprimento-os abraçando a todos com afeto de pai, de irmão e amigo.

Valdocco, 31 de janeiro de 2013.