NO ANIVERSÁRIO DO NASCIMENTO DE SÃO JOÃO BOSCO
Caríssimos Irmãos Salesianos, Jovens, Pais e Educadores:
dirijo-me a vós desde esta "Colina das Bem-aventuranças", o lugar do "sonho" de Joãozinho Bosco, no aniversário do seu nascimento. Já 188 anos são passados desde aquele dia em que Deus quis dar à Igreja e ao mundo o presente estupendo de um homem que consagrou toda a sua vida aos jovens por meio da educação, a fim de fazer deles "honestos cidadãos e bons cristãos" e ensinar-lhes a serem felizes para sempre. Desde então, foram milhares e milhares as pessoas que tiveram em Dom Bosco um pai, um amigo, um modelo, e hauriram do seu carisma, da sua missão, da sua espiritualidade, inspiração e visão, motivação e energia, para levar avante o "sonho de Deus".
Sinto-me feliz de poder dirigir-me a todos vós como sucessor de Dom Bosco a fim de anunciar-vos aquilo que ele mesmo vos anunciaria hoje: o grande "sonho de Deus" é a nossa santificação!
Comunidades de consagrados, jovens, pais, educadores – todos são chamados a formar uma família que seja "casa e escola de comunhão", na qual se desenvolvam aqueles valores que ajudam a crescer como pessoas, a fazer frutificar as potencialidades que existem em cada homem e mulher, até que se viva – para dizê-lo ainda como Dom Bosco – como "honestos cidadãos e bons cristãos".
Aos pais, o apelo premente é o de dirigir o olhar a Mamãe Margarida, aquela mulher simples e sábia, que soube captar a confiança dos filhos, comunicar-lhes aqueles valores humanos que são a plataforma de qualquer crescimento espiritual, como o contato com a terra, o trabalho, a responsabilidade, a honestidade, a solidariedade, o respeito pelo outro e, sobretudo, o sentido de Deus, da sua presença e da sua bondade, como fonte, centro e ápice da vida.
Hoje ninguém mais duvida do papel importante que jogou Mamãe Margarida na vida de Joãozinho, para a sua necessária auto-estima, para a sua educação, para o seu sentimento religioso, para a abertura às necessidades dos outros, para aquela sua genialidade pedagógica que caracterizou depois toda a vida deste nosso amado pai Dom Bosco.
Numa hora em que, como conseqüência de uma visão cada vez mais secularizada e individualista, que privilegia o próprio bem-estar, os próprios interesses e a própria auto-realização, as famílias estão atravessando uma crise muito difícil – a casa de Os Becchi é uma escola onde aprender a difícil mas imprescindível arte da educação dos filhos, uma escola que, à semelhança da casa de Nazaré, faz crescer em idade, sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens (cf. Lc 2,40.52). Eis a mensagem de Os Becchi para vós, caros pais.
Aos jovens, o Colle Don Bosco – com razão chamado por João Paulo II, no decurso da beatificação de Laura Vicuña –, a "Colina das Bem-aventuranças dos Jovens" – relembra que Deus vos quer muito bem; antes, quer-vos felizes agora e na eternidade. E porque vos quer felizes, oferece-vos no Evangelho um programa de vida onde haurir a vossa identidade, o sentido da vossa vida, a vossa missão no mundo, a vossa vocação. As Bem-aventuranças são na verdade um programa de felicidade; por isso, a palavra que nelas se ouve repetidamente é “Bem-aventurados...”, quer dizer: "Felizes...".
É uma felicidade que consiste em pôr Deus no centro da vida, como valor absoluto, a partir do qual têm sentido todos os outros valores e nele encontram a sua hierarquia. Uma felicidade que por certo não coincide com aquela pensada pelo mundo, mas que se demonstrou autêntica e duradoura desde o momento em que Jesus sobre a cruz venceu o mundo, o pecado e a morte, e ressuscitou para sempre. Uma felicidade que foi testada por rapazes como São Domingos Sávio, como a Bv. Laura Vicuña, como o Ven. Zeferino Namuncurá, como os Cinco Jovens Mártires do Oratório de Posnan (Polônia) e como tantos/as jovens que alcançaram uma estatura de gigantes no espírito. Eis a mensagem do Colle Don Bosco para vós, caros jovens.
Aos educadores, os Becchi relembram: a genialidade pedagógica de São João Bosco; a sua capacidade de crer nos jovens, nas suas potencialidades, nas suas energias; o valor de consagrar a própria vida por eles, de tornar-se companheiros de caminhada pela estrada da vida, de ajudá-los a descobrir o sentido da vida e a chave para aceder à felicidade verdadeira e duradoura, a encontrar a sua vocação e a indicar, enfim, metas empenhativas e atraentes.
Os Becchi são o berço do sistema preventivo de Dom Bosco, sistema que ele desenvolveu e aperfeiçoou em Valdocco, descobrindo a importância do estar entre os jovens com presença amorável, inteligente, religiosa, que os livra de cair em experiências negativas, às vezes deletérias, que podem arruinar a sua saúde, a sua existência, a vida eterna, e que os estimula a grandes conquistas. "O sistema preventivo faz santo o educador, propõe a santidade e ajuda os jovens a fazer-se santos: o seu lugar de nascimento e de renascimento é o oratório": assim escrevia o meu predecessor na conclusão da sua carta sobre os jovens Mártires da Polônia. Eis a mensagem para vós, caros educadores.
Enfim, aos irmãos salesianos, o Colle Don Bosco relembra as nossas origens, reportando-nos a elas, ao lugar onde Joãozinho teve aquele sonho que iria marcar toda a sua vida, mostrando-lhe o desígnio de Deus a seu respeito: desde aquele momento «não deu passo, não pronunciou palavra, não pôs mãos a empresa que não visasse à salvação da juventude» - escreveu o P. Rua. Somos filhos de um sonhador, mas sonhador dotado de grande capacidade de realização e empreendimento; e a nossa vocação continua sendo a de levar avante o sonho de Dom Bosco: sonho de Deus para nós e para os jovens. Eis a mensagem para nós, caríssimos irmãos salesianos.
Este é em última análise o sentido da Estréia que já antecipei para o ano de 2004, dirigindo a toda a Família Salesiana o convite de relançar a proposta da santidade juvenil. A celebração do Cinqüentenário da canonização de Domingos Sávio e o Centenário da morte de Laura Vicuña, serão a ocasião para repropor a todos os jovens com convicção a alegria e o empenho da santidade como “medida alta de vida cristã ordinária” (NMI 31).
Hoje mais do que nunca precisa o Mundo de pessoas que dêem a Deus o primado que Lhe pertence e se façam suas testemunhas: testemunhas que O tornem visível, enquanto alargam o coração e a compaixão.
Nossa Senhora Auxiliadora nos seja mãe e mestra, como o foi para Dom Bosco, e nos torne incansáveis missionários dos jovens, animados pela paixão do "Da mihi animas...”.
P. Pascual Chávez.