Caros Jovens,
tenho mais uma vez a oportunidade de me dirigir a vós por ocasião da memória litúrgica do nosso Pai Dom Bosco.
1. 2004, com o Cinqüentenário de canonização de s. Domingos Sávio e o Centenário de morte de Laura Vicuña, declarada Bem-aventurada por João Paulo II no magnífico cenário do Colle Don Bosco, no ano de 1988, torna-se para nós uma espécie de ano jubilar, tal como o recorda a Bíblia: um ano de festa e de alegria, um ano para lembrar a presença de Deus em nossa história, um ano para empenhar-nos com renovado entusiasmo no caminho do amor a Deus e ao próximo.
Domingos e Laura nos dizem: a santidade é possível! É como escalar uma montanha: alto é o cume, impérvio, intransitável, é por vezes o caminho e o cansaço vai tomando conta de nós... Entretanto passo após passo o cimo se aproxima diante de nós e à medida que se volve o olhar para trás ampliam-se mais e mais os horizontes, tornando-se cada vez mais profundos e distantes. Assim, a constância, a capacidade e o treino para o sacrifício, a fidelidade aos pequenos e continuados passos do momento, uma dose de força e pertinácia, juntamente com o encorajamento de um bom guia – estes os instrumentos para se chegar à meta.
2. Se aumentarmos a lista dos nossos conhecidos, não só dos que já foram declarados e reconhecidos santos mas também de outros, crescidos na escola de Dom Bosco, ficaremos maravilhados e quase surpreendidos. Dispomos de um patrimônio muito rico e variado: começando pelas figuras mais conhecidas, como as de Domingos Sávio, Laura Vicuña e Zeferino Namuncurá, e passando para categoria dos mártires, como os Cinco Jovens Poloneses Bem-aventurados, chegamos até aos vultos com auréola, como a Bv. Teresa Bracco, o Bv. Piergiorgio Frassati e, em breve, Alberto Marvelli, ou sem auréola, mas igualmente exemplares, como os D’Acquisto, Maffei, Devereaux, Sigmund Ocasion, Fernando Caló, Ninni Di Leo, Xavier Ribas, Paola Adamo, Flores Roderick, Domingos Zamberletti, Bartolomé Blanco, Petras Pércumas, Willi de Koster, Cruz Atempa , Renato Scalandri …
E de cada um se poderia colher um exemplo, uma palavra, uma atitude.
Poderíamos ainda fazer memória de Domingos Sávio e da sua intrépida decisão e determinação, quando, impressionado pelas palavras de Dom Bosco sobre a possibilidade e a felicidade de se tornar santo, fez este pedido: “Diga-me como devo fazer para começar o empreendimento”.
Fica-se desconcertado pela decisão e força de ânimo de Laura Vicuña, adolescente de 12 anos incompletos, que oferece a sua vida pela conversão da própria mãe.
Assim como é digna de admiração a vontade de viver de Ninni di Leo, condenado à morrer de leucemia, o qual fascina os colegas de hospital com o seu sorriso.
E como não ficar desconcertados perante a espontaneidade de Fernando Caló que à pergunta «E se você morresse?», responde: “Estou pronto! Afinal também no céu se joga futebol!”.
O dia se reveste de novas cores quando relembramos o olhar, a sensibilidade, o amor pelas coisas belas de Paola Adamo, que dizia às suas amigas: “Se Deus é a fonte de todas as coisas, só Ele poderá fazer-nos felizes, não o dinheiro, o poder, o prazer”.
Como não entusiasmar-se com o projeto de vida de Xavier Ribas: «O meu empenho atual assim se poderia resumir: agir nos diversos ambientes em que vivo ... segundo a minha fé... Livrar-me de escravidões é uma condição imprescindível para realizar isto; dedicar-me cotidianamente à oração, que para mim consiste na Leitura da Palavra de Deus, na lembrança dos irmãos e amigos, e uma revisão da minha vida ou de um fato». Estava imerso no empenho progressivo de animar os seus grupos e de estar entre os seus colegas de aula e de bairro. Encorajado e estimulado por seu grupo de formação no Centro Juvenil, grupo que o ajuda a descobrir o chamado de Jesus, relembra: “Olhando para a minha vida e sem saber por que – já que nela não há nada de extraordinário –, parece que Deus me tenha atraído e me tenha chamado; de minha parte, apesar das dificuldades, estou tentando seguir o caminho”.
Como não relembrar a fidelidade de Teresa Bracco à Eucaristia diária sempre no amanhecer, à sua devoção a N. Senhora mediante a récita do Terço no seu cotidiano trabalho de pastoreio...?
E ainda o heroísmo dos Cinco Jovens Oratorianos Poloneses Mártires, envolvidos na animação dos colegas, ligados entre si por interesse e projetos pessoais e sociais, e que juntos nos momentos da prova a vivem com coragem e fidelidade: «Deus nos deu a Cruz e nos está dando também a força para carregá-la».
Finalmente, não podemos deixar de lembrar os exemplos do voluntário Sean Devereaux, o homem do sorriso luminoso, da coragem, do empenho, da coerência, o qual deu a sua vida trabalhando na África para aumentar as expectativas e as possibilidades do povo, para redar-lhe dignidade e esperança: «Enquanto estiver vivo, devo fazer tudo quanto eu acho que posso fazer, isto é, ajudar aos que são menos afortunados do que nós».
3. Diante de tantos colegas, a palavra «santidade» não deve, pois, intimidar, como se ela quisesse denotar um heroísmo impossível, reservado somente a poucos. E a razão é que a santidade não é obra nossa; é sim participação gratuita da santidade de Deus: antes que fruto do nosso esforço, é uma graça, um dom. Santa é a pessoa que se deixa amar por Jesus, que se entrega a Ele na fé, na esperança e no amor. É uma entrega que se atua na vida cotidiana vivida com amor, serenidade, paciência, gratuidade, aceitando as provas e as alegrias de cada dia, com a certeza de que tudo tem um sentido diante de Deus, que tudo é válido e importante em Deus.
4. Exatamente porque se trata de uma caminhada, justamente porque o cimo é alto, mas não inatingível, analisando com atenção a vida de s. Domingos Sávio e dos demais santos da nossa Família, podereis descobrir uma proposta de santidade capaz de fazer de vós, rapazes e moças, «sal da terra e luz do mundo», «honestos cidadãos e bons cristãos», «sentinelas do amanhecer», enfim: «os santos do terceiro milênio».
Eis os pontos centrais dessa proposta:
a) Assumir a vida como um dom, desenvolver com gratidão os seus melhores aspectos e vivê-la com alegria.
Isto quer dizer:
- dedicar-se ativamente ao próprio crescimento, reconhecendo tudo quanto de bom e de belo Deus depositou em nós, desenvolvendo-o com confiança e perseverança;
- abrir os corações ao otimismo e à confiança na vida, salva e redimida por Jesus Cristo e amada por Deus.
Isto supõe:
- desejar e viver um encontro pessoal de amizade com Jesus e com Maria, sua Mãe, por meio de uma oração simples e perseverante, da participação freqüente e empenhada dos sacramentos, especialmente da Eucaristia e da Reconciliação;
- aprofundar a formação cristã, iluminar as situações e os problemas da vida com a Palavra de Deus, garantir um empenho constante e generoso de melhoramento da vida cristã;
- viver o empenho cotidiano do estudo, do trabalho e da profissão, e da vida de família, com precisão, competência e fidelidade, como resposta de amor a Deus e de serviço aos outros.
c) Abrir-se à dimensão social, ao serviço, à solidariedade, à caridade, e assumir um projeto de vida.
Os jovens educados por Dom Bosco, ao tornar-se bons ficavam santamente agressivos, zelosos, isto é: missionários no meio dos colegas. Dom Bosco os encorajava a:
- trabalhar em favor dos colegas na vida cotidiana, por meio do exemplo, da ajuda amiga para superar dificuldades, do apoio do ambiente educativo;
- abrir-se às grandes perspectivas apostólicas da Igreja e às necessidades da sociedade (missões, paz, solidariedade, construção de uma nova civilização do amor), traduzindo-as em atuações imediatas na situação e no ambiente em que se vive e trabalha;
- promover grupos, associações e movimentos a fim de tornar-se protagonistas de uma fé empenhada e atenta à promoção humana e à transformação do ambiente;
5. Este é o caminho percorrido por Domingos Sávio, Laura Vicuña e por tantos outros jovens santos da nossa Família que acima recordei, e por muitos outros que também vós conheceis nos vossos ambientes. Convido-vos a seguir-lhes os passos, a fazerdes vosso o programa de vida cristã indicado por Dom Bosco e por eles atuado.
inal do Fórum Mundial do MJS: “Fazer da vida cotidiana o lugar do encontro com Deus na descoberta da sua presença nos jovens, sobretudo nos mais pobres, para chegar a viver coerentemente a síntese fé-vida rumo a opções de santidade evangélica".
Assim, pois, coragem: grande é a multidão dos colegas que caminham convosco! Principalmente caminha ao vosso lado Nossa Senhora Auxiliadora, nossa Mãe e Mestra. Confiai a Ela, todos os dias, o empenho de fazer da vossa vida aquilo que Deus sonhou para vós.
Boas Festas de Dom Bosco!
P. Pascual Chávez V.