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Omelia natività Giovanni Battista 2004

HOMILIE DO REITOR-MOR - PASCUAL CHÁVEZ



“Ele era uma lâmpada que arde e resplende!” (Jo 5,35)
NATIVIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA
Onomástico oficial de Dom Bosco
Is 49,1-6; Sl 39; At 13,22-26; Lc 1,57-66.80

CarCaríssimos Irmãos,
celebramos hoje com toda a Igreja a solenidade da Natividade de São João Batista, uma festa cheia de significado e valor na vida da Igreja e uma data transbordante de recordações para nós Salesianos por ser o dia do onomástico oficial de Dom Bosco, a quem agradava fazer desta data a festa da sua família. Foi, de fato, este fator que me levou há dois anos a pedir que se tornasse a fazer deste dia a festa do Reitor-Mor.

Além disso, há dois elementos novos que, nos últimos anos, tiveram para nós uma ressonância particular: a morte do Padre Viganò, no dia 23 de junho de 1995, e o aniversário do Padre Vecchi (também no dia 23 de junho), que celebrava o seu onomástico na Natividade de São João Batista. É, pois, uma data em que se pode fazer memória de Dom Bosco e dos seus sucessores.

Hoje, contudo, mais de acordo com o caráter litúrgico da festa, gostaria de refletir um pouco sobre a figura de São João Batista e, à sua luz, individuar os seus traços, aos quais Dom Bosco era muito sensível.

Quando, no século IV, começou-se a celebrar o nascimento do Senhor, pensou-se naturalmente em comemorar também o do seu precursor. No Ocidente, impôs-se imediatamente a data de 24 de junho, que marcava o solstício de verão, como em 25 de dezembro o de inverno. João, na realidade, era a “lâmpada” que devia diminuir quando aparecesse a luz (Jo 5,35; 3,30). Esse papel faz dele “mais do que um profeta” (Mt 11,19). Os outros anunciaram o Salvador, em termos mais ou menos velados. Ele o viu com seus olhos. Batizou-o e encaminhou os que se tornaram seus primeiros discípulos para o Cordeiro de Deus (Jo 1,35-42). É impossível anunciar o Evangelho sem falar de João, o precursor. Nas igrejas do Oriente, esta inseparabilidade entre Jesus e João é tal que sobre a “porta real” da iconostase vê-se sempre um ícone de Cristo em glória com Maria à sua direita e João à sua esquerda. Isso está a indicar a veneração de que João goza em todas as tradições litúrgicas. Ele é, enfim, o único, além do Senhor e da Virgem Maria, de quem se celebra a natividade (24 de junho) e a morte (29 de agosto).

A sua vocação recorda a de Jeremias, a sua vida, a dos “nazireus”, homens votados a Deus por toda a vida ou por um determinado tempo (At 18,18). A sua missão é descrita com os mesmos termos usados para a de Elias (Ml 2,23-24; Sir 48,10). Ele veio a “preparar para o Senhor um povo bem disposto” (Lc 1,17). O nascimento de João foi uma boa nova que produziu, ao redor de si e de seus pais, as primeiras manifestações da alegria messiânica. Como em seguida a respeito de Jesus, pergunta-se: “Quem é este?”. Ver-se-á quando, às margens do Jordão, ele se revelar um pregador intrépido daquela salvação que Deus quer ver chegar “até os confins da terra” (Is 49,6). Com a sua pessoa e a sua missão, João, o precursor, torna-se então inseparável de Jesus e da boa nova dirigida a todos os homens a quem Deus ama. A iconografia, o número das crianças às quais se dá o nome de João Batista e das igrejas dedicadas ao precursor são testemunhos claros da piedade cristã, que compreendeu o lugar de primeira ordem ocupado por João Batista no evento da salvação em Jesus Cristo. Ele é também o modelo dos pregadores e de todos os crentes que se devem pôr à parte diante daquele que anunciam, para “preparar-lhe as estradas”.

Entre os elogios que Jesus faz de São João Batista, um dos mais belos é aquele que nos traz o Evangelho de João quando põe nos lábios de Jesus estas palavras: “Ele era uma lâmpada que arde e resplende” (Jo 5,35). Jesus não disse: “que arde e queima”, pois é do fervor de João que derivava o seu esplendor e não era seu esplendor que produzia o seu fervor. João não queimava para poder brilhar. O fogo do seu fervor provinha do espírito de amor, e não do zelo da vaidade ou do ciúme, pois não encontra qualquer resistência no buscar com clareza quem é Jesus, se é aquele que devia vir ou devia esperar por um outro. E quando lhe é revelado, não se escandaliza, mas indica aos seus discípulos quem é o Cordeiro de Deus, que se deve seguir, com o risco de ficar sem eles, consciente de que é realmente necessário que Jesus cresça e ele diminua.

O esplendor de João Batista provinha da sua espera do Senhor, vivida com tanta intensidade que o seu alimento e a sua veste eram um sinal da prontidão para percebê-lo, recebê-lo e acolhê-lo.

O esplendor de João Batista provinha do seu fervor interior e ardente e da sua total dedicação espiritual, que o tornava livre e totalmente disponível a Deus e à sua revelação em Jesus.

O esplendor de João Batista provinha do fogo da sua palavra com que a todos convidava à conversão, com coragem e sem hesitação, reprovando com toda a liberdade qualquer tipo de hipocrisia.

Viver cheios de tensão afetiva e espiritual como quem realmente espera o Senhor e tornar visível essa nossa condição.

Viver carregados de fogo interior, fruto da nossa total entrega a Deus, completamente disponíveis para ele.

Viver votados completamente à evangelização dos jovens para mostrar-lhes o Cordeiro de Deus e fazer com que se tornem seus discípulos.

A pessoa do Batista faz-se para nós mensagem e indica-nos quatro grandes perigos a esconjurar na Congregação, tanto na vida das comunidades, quanto na de cada irmão.

* Murmuração, porque destrói o clima de família que, segundo Dom Bosco, deveria reinar em todas as comunidades fazendo com que todos possam sentir-se em casa, acolhidos, bem queridos, estimados, acompanhados.
* Superficialidade espiritual, porque provoca um arrefecimento da fé que deveria ser a motivação mais nobre e propulsora, e que, perdida, somos levados a viver sem alegria, entusiasmo e convicção.

* Genericismo pastoral, porque representa uma traição ao Espírito Santo, que enriquece com carismas variados a sua Igreja, aos destinatários que se vêem privados da nossa presença e a Dom Bosco, que é o nosso Fundador e Pai.

* Pessimismo, porque é expressão de uma esperança frágil e nos torna injustos com o Senhor que, através do seu Espírito, guia a história e leva adiante o seu maravilhoso plano de salvação.

O segredo para evitar esses perigos é fazer reviver Dom Bosco em nós, o que comporta lê-lo, estudá-lo com amor, esforçar-nos por imitá-lo em seu zelo ardente pela salvação dos jovens. Façamos tesouro de seus ensinamentos, assim como brotam de toda a sua vida.

Assim agindo, poderemos:

* Restaurar o espírito de família, segundo as grandes opções do CG25, que se revelam sempre muito atuais e proféticas.

* Dar novamente a Deus o primado que só a Ele corresponde, justamente porque nos quis consagrados para estarmos a seu serviço: “a sua glória e a salvação das almas”, como dizia Dom Bosco.

* Renovar o Sistema Preventivo, que não é apenas um método pedagógico, mas também uma espiritualidade, vivida antes de tudo com os irmãos e não só com os jovens e os colaboradores.

* Abrir a porta ao otimismo, aprendendo de Dom Bosco a descobrir os traços do Espírito e deixar espaço à novidade, com o coração cheio de esperança.

A nossa espiritualidade não é outra que aquela emanada do “Da mihi animas” e do Sistema Preventivo, e se exprime numa paixão por Deus e pelos jovens, na bondade com familiaridade e simpatia, no amar e fazer-se amar, no “êxtase da ação”, na visão otimista da realidade, na coragem eclesial e bom senso social.

Esta, no meu modo de ver, é a mensagem que João Batista nos deixa e, com ele, Dom Bosco e os nossos saudosos Padre Viganò e Padre Vecchi.

“Veio um homem enviado por Deus
e o seu nome era João.
Ele veio como testemunha
para dar testemunho da luz,
para que todos cressem por meio dele.
Ele não era a luz,
mas devia dar testemunho da luz” (Jo 1,6-8)

Padre Pascual Chávez V.
Casa Geral, 24.06.04