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«Sede bons administradores da multiforme graça de Deus» 1Pd 4,7b-11; Lc 22,24-30 Homilia durante a missa de ação de graça pela beatificação do P. Augusto Czartoryski, da Ir. Eusébia Palomino e de Alexandrina da Costa.

HOMILIE DO REITOR-MOR - PASCUAL CHÁVEZ

 

«Sede bons administradores da multiforme graça de Deus»

1Pd 4,7b-11; Lc 22,24-30

Homilia durante a missa de ação de graça pela beatificação do P. Augusto Czartoryski, da Ir. Eusébia Palomino e de Alexandrina da Costa.

Roma, Basílica do Sagrado Coração de Jesus – 26 de abril de 2004

CarEstamos vivendo, como Família Salesiana, um fim de semana realmente inesquecível. «O Senhor foi bom, ou melhor, maravilhoso conosco e estamos contentes»

Com o coração cheio de alegria e de emoções, reunimo-nos nesta Basílica do Sagrado Coração, que viu lado a lado Dom Bosco e o então Príncipe Augusto Czartoryski, vindos a Roma para a consagração desta igreja, a fim de agradecer a Deus pelo dom da santidade salesiana, que se tornou novamente presente e premente com a beatificação do P. Augusto Czartoryski, da Ir. Eusébia Palomino e de Alexandrina da Costa.

A beatificação deles é uma nova confirmação de que a Família Salesiana é uma Família de santidade e que cada um de nós, no próprio estado de vida, pode encontrar modelos a imitar para a própria vida. Hoje, os Cooperadores e as Cooperadoras receberam a própria marca oficial de autenticidade evangélica no reconhecimento da santidade de um dos membros de sua Associação.

Ela chega muito oportunamente agora enquanto vós, caros Cooperadores e Cooperadoras, estais reformulando o vosso Regulamento de Vida, porque vos recorda que o objetivo da vossa vida é a vossa santificação. Receber um dom como este comporta mais responsabilidade. O caminho interior, espiritual, destes três irmãos e irmãs beatificados, iluminado pela Palavra de Deus, oferece-nos elementos para responder ao Senhor. De fato, poder-se-ia sintetizar na exortação de São Pedro: «Sede bons administradores da multiforme graça de Deus».

Os santos têm um grande significado para a Igreja ou para as Congregações, Institutos, Sociedades de Vida Apostólica ou Associações de leigos aos quais pertencem, mas são também uma preciosa reserva de humanidade. Eles são significativos para o mundo, não tanto e não somente pelo bem que realizaram – em alguns casos notabilíssimo, em outros, mais humilde – mas pelos valores que encarnaram e que deixam em herança à sociedade. Num contexto sempre mais marcadamente secularizado, onde não faltam até mesmo hostilidades e conflitos para os crentes, o bem-aventurado Augusto Czartoryski, a bem-aventurada Eusébia Palomino e a bem-aventurada Alexandrina da Costa, ensinam-nos como enfrentá-lo. Antes de tudo com a serenidade na lógica das bem-aventuranças evangélicas. A partir dessa inspiração, o trabalho espiritual de todos nós deve ser mais vivo. O primado de Deus deve ser mais claro.

«Esta é a vitória que venceu o mundo: a nossa fé» (1Jo 5,4). Eis a nossa carta vencedora, mostrar-nos verdadeiros crentes, entusiastas e corajosos, conscientes de que - como diz São Francisco de Sales - «não somos verdadeiramente humanos e cristãos se não amamos a Deus mais do que a nós mesmos». Eis a fonte do humanismo salesiano e da nossa santidade salesiana.

Com essa finalidade são-nos dadas algumas recomendações essenciais, que traçam um programa para a vida de cada um e a de nossas comunidades, famílias ou grupos:

A sobriedade, a austeridade do nosso estilo de vida, que possa contrastar uma cultura de consumo, que tende a fazer de nós perfeitos consumidores de produtos, de sensações, de experiências. Viver do essencial, superando a tentação da vaidade, do orgulho, da auto-suficiência, do desperdício, do supérfluo, sobretudo num mundo que conhece uma diversidade escandalosa entre poucas pessoas e nações que amontoam a maior parte da riqueza e a imensa maioria da população mundial que pena para sobreviver. Ao «Homo consumiens» os nossos bem-aventurados opõem o «Homo serviens».

A caridade sincera e operosa, que faz de cada um de nós um sinal do amor preveniente e providente de Deus, que nos torna bons samaritanos sempre dispostos a servir aqueles que precisam, melhor ainda, a colocar-nos em marcha para ir ao encontro dos mais pobres, marginalizados e excluídos. Viver não centrados em nós mesmos, mas sempre atentos e disponíveis a servir, a viver pró-existencialmente como Jesus. Ao «Homo egolatra» os nossos bem-aventurados opõem o «Homo solidalis».

O caminho real da humildade e do serviço que nos verifica como homens e mulheres com mentalidade evangélica, como genuínos discípulos de Jesus que se apresentou e viveu em nosso meio como alguém que servia, dando prova assim do seu senhorio. Viver não buscando ser os primeiros e os triunfadores segundo os critérios do mundo, mas segundo a lógica do Evangelho: «Entre vós não será assim; mas quem quiser ser o maior entre vós seja como o menor». Ao «Homo superbus» os nossos bem-aventurados opõem o «Homo humilis».

Eis a contribuição trazida pelo bem-aventurado Cazartoryski, pela bem-aventurada Palomino e pela bem-aventurada Alexandrina para colaborar na construção de um mundo melhor possível.

Caros irmãos, irmãs, amigos, acolhamos o dom que nos fazem esses membros da nossa Família Salesiana. Eles nos dizem hoje: «Sede bons administradores da multiforme graça de Deus».

P. Pascual Chávez V.
Roma, Basílica do Sagrado Coração
26 de abril de 2004