Reitor-Mor

BS 2025-04: Com don Bosco. Sempre

Não é indiferente celebrar um Capítulo Geral num lugar ou noutro. Certamente, em Valdocco, “berço do carisma”, temos a oportunidade de redescobrir a gênese da nossa história e reencontrar originalidade, que constitui o coração da nossa identidade de consagrados e apóstolos dos jovens.

Na moldura antiga de Valdocco, em que tudo fala das nossas origens, sou quase obrigado a fazer memória daquele dezembro de 1859, em que Dom Bosco havia tomado uma decisão incrível - e única na história: de fundar uma congregação religiosa com rapazes.

Havia-os preparado, mas continuavam a ser muito jovens. «Desde há muito tempo pensava fundar uma congregação. Chegou o momento de descer ao concreto» - explicou com simplicidade Dom Bosco. De fato, a congregação não nascia naquele momento: já existia por aquele conjunto de normas, ou regras, que «sempre observaram por tradição… Trata-se agora de avançar, de constituir formalmente a Congregação e de aceitar as suas regras. Fiquem, todavia, a saber que só serão inscritos nela aqueles que, depois de haver refletido seriamente, quiserem fazer, a seu tempo, os votos de pobreza, castidade e obediência… Dou-lhes uma semana para pensar».

À saída da reunião o silêncio era insólito. Bem depressa, quando as bocas se abriram, se pôde constatar que Dom Bosco havia tido razão em proceder com calma e prudência. Alguns murmuravam, entre dentes, que Dom Bosco queria fazer deles ‘frades’. Cagliero percorria o pátio a largas passadas, entregue a mui contraditórios sentimentos...

Por fim, o desejo de «ficar com Dom Bosco» na maioria deles levou a melhor. Cagliero saiu-se com a frase que ficaria na história: «Frade ou não frade, eu fico com Dom Bosco».

Na «conferência de adesão», que se realizou na tarde de 18 de dezembro, eram 17.

Dom Bosco convocou o 1º Capítulo Geral em 5 de setembro de 1877, para Lanzo Torinese. Os participantes eram 23 e o Capítulo durou três dias inteiros.

Hoje, para o Capítulo de número 29, os Capitulares são 227, vindos de todas as partes do mundo, representando a todos os Salesianos.

Na abertura do 1º Capítulo Geral, Dom Bosco disse àqueles nossos irmãos: «O Divino Salvador diz no santo Evangelho que onde estiverem dois ou três reunidos em seu nome, Ele mesmo estará no meio deles. Nós não temos outra finalidade nestas reuniões senão a maior glória de Deus e a salvação das almas redimidas pelo precioso sangue de Jesus Cristo». Podemos, portanto, estar certos de que o Senhor estará no meio de nós e que Ele conduzirá as coisas de tal modo que todos se sintam à vontade.

 

Uma mudança de época

A expressão do Evangelho - «Jesus chamou aqueles que queria e os enviou a pregar» (Mc 3,14-15) - diz que Jesus escolhe e chama a quem quer. Entre esses, estamos também nós. O Reino de Deus torna-se presente e aqueles primeiros Doze são um exemplo e modelo para nós e para as nossas Comunidades. Os Doze são pessoas comuns, com virtudes e defeitos: não formam uma comunidade de puros nem um simples grupo de amigos.

Sabem que - como disse o Papa Francisco – nós, “mais que uma época de mudança, estamos a viver uma mudança de época”. Em Valdocco, nestes dias, respira-se um clima de grande consciência. Todos os Coirmãos sentem que este é um momento de grande responsabilidade.

Na vida da maioria – desses Irmãos, das Inspetorias, da Congregação – há tanta coisa positiva: mas isso não basta, e não pode servir de “consolação”, porque o grito do mundo, as grandes e novas pobrezas, a luta cotidiana de tantas pessoas – não só pobres mas também simples e laboriosas – levanta-se forte num como pedido de ajuda. São todos pedidos que devem provocar-nos, sacudir-nos, não deixar-nos tranquilos. Com a ajuda das Inspetorias e mediante consulta, pensamos havermos identificado: por um lado, os principais motivos de preocupação; e, por outro, os sinais de vitalidade da nossa Congregação, marcados sempre pelos traços culturais específicos de cada contexto.

Durante o Capítulo, propusemo-nos concentrar-nos acerca do que signifique verdadeiramente para nós ser “salesianos apaixonados por Jesus Cristo”, porque, sem isto, ofereceremos bons serviços, faremos bem às pessoas, ajudaremos..., mas não deixaremos marca profunda alguma.

A missão de Jesus continua a tornar-se visível hoje no mundo também através de nós, seus mandados. Somos consagrados para construir amplos espaços de luz para o mundo de hoje; para ser profetas. Fomos consagrados por Deus e chamados ao seguimento do seu amado Filho Jesus, para viver realmente como conquistados por Deus. Mais uma vez, por isso, o essencial joga-se todo na fidelidade da Congregação ao Espírito Santo, vivendo - com o espírito de Dom Bosco - uma vida consagrada salesiana, centrada no Senhor Jesus.

A vitalidade apostólica, como vitalidade espiritual, é empenho pelos jovens, pelos rapazes, nas mais variadas pobrezas. Não se pode, portanto, parar e oferecer apenas serviços educativos. O Senhor chama-nos a educar evangelizando, levando a sua presença e acompanhando a vida com oportunidades de futuro. Somos chamados a procurar, em nome de Deus, novos modelos de presença, novas expressões do carisma salesiano. E isto se faça em comunhão com os jovens e com o mundo, mediante “uma ecologia integral”, na formação de uma cultura digital nos mundos habitados pelos jovens e adultos.

E é forte o desejo e a expectativa de que este seja um Capítulo Geral corajoso, no qual se digam as coisas, sem se perder em frases corretas e bem construídas, mas que não cheguem à vida.

Nesta missão não estamos sós. Sabemos e sentimos que a Virgem Maria é um modelo de fidelidade.

É belo recordar, com a mente e o coração, o dia da Solenidade da Imaculada Conceição, de 1887, quando, dois meses antes da sua morte, Dom Bosco disse a alguns salesianos que, comovidos, olhavam para ele e o escutavam: «Até agora caminhámos na certeza. Não podemos errar: é Maria quem nos guia».

Maria Auxiliadora - a Nossa Senhora de Dom Bosco - nos guia. Ela é a Mãe de todos nós. É Ela que repete, como em Caná de Galileia, nesta hora do CG29: «Façam tudo o que Ele lhes disser».

Como fez com Dom Bosco, a nossa Mãe Auxiliadora nos ilumine e nos guie a sermos fiéis a Deus, e a nunca desiludirmos os jovens, sobretudo os mais necessitados.