Reitor-Mor

Carta em preparação para o Sínodo dos Bispos de 2018, sobre Juventude


SOCIEDADE DE SÃO FRANCISCO DE SALES
casa geral salesiana
Via della Pisana 1111 - 00163 Roma
O Reitor-Mor

 

Roma, 24 de julho de 2017

CARTA DO REITOR-MOR
AOS SALESIANOS DE DOM BOSCO

O Documento Preparatório do Sínodo dos Bispos de 2018
sobre “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”,
bússola ao longo do nosso caminho.

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Caros irmãos,
escrevo-lhes esta carta animado pelo desejo de exortar-lhes a reconhecer neste tempo que vivemos um kairós, um tempo propício para o nosso serviço e a nossa comunhão eclesial.
Em 6 de outubro de 2016, de fato, o Papa Francisco anunciou que haverá em outubro de 2018 a XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre o tema: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. É a primeira vez na história da Igreja que uma Assembleia tão importante e representativa se dedique de maneira intensa e explícita ao estudo deste tema. O Sínodo sobre a nova evangelização (2012) e a Exortação Apostólica Evangelii gaudium (2013) trataram do modo de realizar a missão de anunciar a alegria do Evangelho no mundo de hoje; ao acompanhamento das famílias ao encontro dessa alegria foram dedicados, por sua vez, dois Sínodos (2014 e 2015) e a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris laetitia (2016). Em continuidade com esse caminho, o Santo Padre decidiu que a Igreja se interrogue sobre o modo de acompanhar os jovens no reconhecimento e na acolhida do apelo ao amor e à vida em plenitude; ele também pediu aos próprios jovens que ajudassem a Igreja a identificar as modalidades hoje mais eficazes para anunciar a Boa-Nova. Depois, em 13 de janeiro de 2017, a Secretaria do Sínodo dos Bispos ofereceu à atenção de toda a Igreja um Documento Preparatório (DP), para dar início “à fase de consulta a todo o Povo de Deus”.
Como Salesianos de Dom Bosco, somos chamados a oferecer à Igreja o dom do nosso carisma, juntamente com a nossa reflexão e experiência pastoral com e pelos jovens. Por essa razão, hoje, peço-lhes que se unam ao esforço de toda a Igreja no estudo desse Documento e na resposta ao Questionário que lhe anexado, deixando-se desafiar, antes de tudo, por esta questão: diante da convocação do Sínodo e da publicação do seu Documento Preparatório, como nos sentimos desafiados em nossa experiência carismática? Peço-lhes que compartilhem suas reflexões também com a Igreja local, com a consciência de que elas não são apenas entregues aos jovens e aos educadores dos nossos ambientes salesianos, mas, sobretudo, compartilhadas e discutidas com eles e com muitos outros jovens e educadores empenhados na pastoral juvenil das Igrejas locais.
Com está ótica de envolvimento, foi pedido a todas as Inspetorias que respondessem ao Questionário e enviassem suas respostas ao Dicastério para a Pastoral Juvenil.
1. O primeiro passo a dar, indispensável, deve ser o de ler a história dos jovens que nos são confiados. Esse passo comporta ser familiares aos seus desafios e às oportunidades do território aonde somos chamados a testemunhar o amor de Deus pelos jovens, especialmente os mais pobres. A primeira parte do Documento Preparatório fundamenta-se, de fato, na importância de uma leitura da realidade contemporânea dos jovens. No espírito da Evangelii Gaudium somos chamados a “sair” e “escutar”, para, depois, compartilhar a Boa-Nova. Conhecer a realidade dos jovens que encontramos não é um luxo que podemos permitir-nos, mas um dever que não podemos transcurar. Não o fazer seria uma traição, um voltar as costas ao grito muitas vezes oculto, mas profundo, dos jovens. A tentação do “fizemos sempre assim”, com a atitude do “já conhecemos a resposta”, mesmo se a pergunta mudou, são os verdadeiros perigos que devemos reconhecer e evitar.
2. A segunda parte do Documento Preparatório concentra-se nos conceitos de fé, discernimento e vocação. Eles estão estritamente relacionados entre si: a fé é fonte do discernimento vocacional, ela “faz descobrir uma grande chamada – a vocação ao amor – e assegura que este amor é confiável, que vale a pena entregar-se a ele, porque o seu fundamento se encontra na fidelidade de Deus, que é mais forte do que toda a nossa fragilidade” (LF, 53). Como Salesianos, somos chamados a reconhecer neste campo alguns desafios e reforçar algumas opções: a nossa proposta educativa e pastoral deve oferecer aos jovens itinerários que os levem a viver uma experiência humana integral; esta proposta, portanto, deve ajudar os jovens a viver a vida como um dom a acolher e compartilhar, do qual estar cientes e pelo qual ser gratos; enfim, como educadores e pastores, somos chamados a acompanhar os jovens no discernimento da própria vocação e, portanto, na construção do próprio projeto de vida, no conhecimento de que “não existe vocação que não seja ordenada para uma missão” (DP II, 3).
O tema do discernimento e do acompanhamento exige uma séria e qualificada preparação – humana, espiritual, carismática – de todos os componentes da Comunidade Educativo-Pastoral, consagrados e leigos.
Convido-os a evitar duas tentações pastorais.
A primeira tentação que encontramos aqui é a de ficarmos a constatar a carência do tempo e dos recursos necessários para um intenso trabalho no acompanhamento dos jovens. Respondemos a essa tentação oferecendo-nos para ser nós mesmos, por primeiro, verdadeiras e autênticas testemunhas em nos deixarmos acompanhar: “guias guiadas”, que fazem experiência pessoal do acompanhamento espiritual e, só então, se tornam capazes de oferecê-la a outros, gerando processos virtuosos de formação ao acompanhamento para os leigos corresponsáveis na missão salesiana.
A segunda tentação é a de contentar-nos com uma visão reducionista do acompanhamento, que como que exalta o papel individual do acompanhamento nesse processo. A esta tentação, respondemos oferecendo aos jovens, aonde estamos presentes, um acompanhamento gradual em vários níveis: o acompanhamento do ambiente salesiano, que acolhe os jovens e lhes transmite o  “espírito da família”; o acompanhamento da comunidade educativo-pastoral que, por sua vez, deve ser guiada à corresponsabilidade na missão salesiana e no discernimento comunitário que precede o planejamento educativo e pastoral; o acompanhamento do grupo no qual o jovem se insere, num itinerário gradual de discipulado e apostolado; e, enfim, o acompanhamento pessoal dos jovens, decisivo para o seu discernimento vocacional.
O Documento Preparatório indica-nos que este último tipo de discernimento não é um ato pontual, mas um “processo com que a pessoa, em diálogo com o Senhor e à escuta da voz do Espírito, chega a fazer opções fundamentais, a começar por aquela sobre o estado de vida (DP II, 2). Em todo jovem educado na fé ressoa este questionamento: “Como viver a Boa-Nova do Evangelho e responder ao chamamento que o Senhor dirige a todos aqueles dos quais vai ao encontro: através do casamento, do ministério ordenado, da vida consagrada?” (DP II, 2). Lembrados da vocação universal à santidade (LG 40), somos chamados a acompanhar todo jovem, sem exclusão alguma, até esta questão fundamental, ou seja, até às portas da vida adulta, propondo gradualmente, mas sem receio, como fez Dom Bosco, a meta de uma medida alta de vida humana e cristã.
3. A terceira parte do Documento Preparatório recolhe algumas orientações sobre a ação pastoral, individuando os seus sujeitos, lugares e instrumentos. Somos convidados a novamente “acompanhar os jovens”, através dos três movimentos de “sair”, “ver” e “chamar”, que marcam o modo com que Jesus encontrava as pessoas do seu tempo. Este apelo soa familiar a nós, filhos de Dom Bosco, e representa um novo apelo à escuta dos jovens e à disponibilidade incondicional diante de suas necessidades, cientes do fato de que a relação de paternidade espiritual é o prolongamento da paternidade educativa. Do encontro com os jovens, bem representado pela praxe da assistência, pode florescer o acompanhamento em vista do discernimento vocacional e a consequente construção do projeto de vida do jovem.
Quando o Documento Preparatório convida a chamar e considerar sujeitos da pastoral “todos os jovens, sem exclusão alguma”, ressoa em nós a certeza, que é nossa e foi de Dom Bosco, pela qual “em todo jovem, mesmo o mais infeliz, existe um ponto acessível ao bem”. Em vista da ação pastoral de qualidade oferecida a jovens com necessidades diversas, portanto, deve ser promovida uma clara e participativa experiência de todos os sujeitos da comunidade que educa e evangeliza: a Comunidade Educativo-Pastoral. Isso requer, da parte da Comunidade Salesiana local e da animação salesiana inspetorial, um empenho sempre mais sério, qualificado e programado da formação dos leigos colaboradores, também em relação ao tema do acompanhamento dos jovens.
Ao envolvimento corresponsável dos vários sujeitos da ação pastoral, deve fazer-se acompanhar a inteligência pastoral que não se limite a uma proposta pastoral genérica, mas se traduza em processos de discernimento comunitário ao redor da redação compartilhada do Projeto Educativo-Pastoral. Na programação pastoral, portanto, é oportuno que os itinerários oferecidos tenham o mais possível em vista os jovens como sujeitos a serem responsabilizados no itinerário de crescimento humano e de fé, e que sejam propostos no interior de uma lógica gradual do itinerário. Exorto-os, ainda, a se esforçarem para oferecer itinerários de oração no interior dos itinerários educativos e evangelizadores, nos quais os jovens possam saborear o valor do silêncio e da contemplação: “não há discernimento sem cultivar a familiaridade com o Senhor e o diálogo com a sua Palavra” (DP III, 4).
À margem desta carta, ofereço-lhes, enfim, três questões, que podem orientar a reflexão em relação aos desafios e das oportunidades da fé e do discernimento vocacional dos jovens hoje. Ofereço as três questões como pista de reflexão aos vários Conselhos Inspetoriais, encontros de Diretores, reuniões dos Salesianos do quinquênio e dos tirocinantes. Convido também a explorar a possibilidade de oferecer estas questões aos vários grupos da Família Salesiana:

  1. Quais são as propostas que em nível de Igreja local estamos propondo para que a Evangelii Gaudium permaneça como a bússola do nosso itinerário pastoral?
  2. Quais são as opções pastorais que estamos favorecendo e/ou podemos propor para que todos, jovens e adultos, pais e professores, catequistas e animadores, nos sintamos parte de uma comunidade que educa à fé, uma comunidade que evangeliza?
  3. Quais são as dificuldades que podem amortecer a continuidade e a consistência dos processos pastorais? Quais são as propostas para reforçar a continuidade e a consistência dos processos pastorais?

Segundo o convite do Santo Padre (DP III, V), confiamos a Maria esse itinerário no qual, com toda a Igreja, nos interrogamos sobre o modo de acompanhar os jovens na acolhida do chamado à alegria do amor e à vida em plenitude.

Em Cristo,

Ángel Fernández Artime
X Sucessor de Dom Bosco