Venerável: 21-12-1995Beatificado em 25 de abril de 2004Celebração litúrgica: 13 de outubro
Nasceu em Balasar, província do Porto e arquidiocese de Braga (Portugal), em 30 de março de 1904, sendo batizada no seguinte dia 2 de abril, Sábado Santo. Foi educada cristãmente pela mãe, com a irmã Deolinda. Alexandrina permaneceu em família até os sete anos, depois foi enviada a Póvoa do Varzim pensionada junto à família de um mar- ceneiro, para frequentar a escola elementar que não havia em Balasar. Ali fez a Primeira Comunhão em 1911 e, no ano seguinte, recebeu o sacramento da Confirmação pelo bispo do Porto.
Após dezoito meses voltou a Balasar e foi morar com a mãe e a irmã na localidade “Calvário” onde permanecerá até a morte. Começou a trabalhar no campo; tendo uma constituição robusta, competia com os homens e ganhava tanto quanto eles. Sua infância foi muito feliz: dotada de temperamento alegre e comunicativo, era muito amada pelas companheiras. Aos doze anos, porém, ficou doente: uma grave infecção, talvez febre tifoide intestinal, levou-a a um passo da morte. Superou o perigo, mas o físico ficará marcado para sempre por este episódio.
Aos quatorze anos aconteceu um fato decisivo para sua vida. Era o Sábado Santo de 1918. Naquele dia, ela, a irmã Deolinda e uma jo- vem aprendiz estavam costurando, quando surgiram três homens que tentavam entrar em seu quarto, o que conseguiram apesar das portas estarem trancadas. Alexandrina, para salvar a sua pureza ameaçada, não hesitou em lançar-se da janela, de uma altura de quatro metros. As consequências foram terríveis, embora não imediatas. De fato, as várias consultas médicas às quais se submeteu sucessivamente diagnosticaram com sempre maior clareza um fato irreversível. Até os dezenove anos ainda conseguia arrastar-se até a igreja onde, toda encolhida, ficava de bom-grado, com grande admiração do povo. Depois, a paralisia foi pro- gredindo sempre mais, até que as dores se tornaram terríveis, as articu- lações perderam a mobilidade e ela ficou completamente paralisada. Era o dia 14 de abril de 1925 quando Alexandrina se pôs de cama para não se levantar mais pelos restantes trinta anos de sua vida.
Até 1928, ela não deixou de pedir a Nosso Senhor, mediante a in- tercessão de Nossa Senhora, a graça da cura, prometendo que, se fosse curada, iria ser missionária. Logo, porém, que entendeu o sofrimento como a sua vocação, abraçou-a com prontidão. Dizia: “Nossa Senhora deu-me uma graça ainda maior. Primeiramente, a resignação, depois a conformidade completa à vontade de Deus e, enfim, o desejo de sofrer”. Remontam a este período os primeiros fenômenos místicos, quando Alexandrina iniciou uma vida de grande união com Jesus nos Taberná- culos, por meio de Maria Santíssima. Certo dia, em que estava sozinha, veio-lhe improvisamente este pensamento: “Jesus, tu és prisioneiro no Tabernáculo e eu no meu leito por tua vontade. Faremos companhia um ao outro”. Desde então, começou a primeira missão: ser como a lâmpada do Tabernáculo. Passava suas noites como que peregrinando de Taber- náculo em Tabernáculo. Em cada Missa, oferecia-se ao Eterno Pai como vítima pelos pecadores, com Jesus e segundo as suas intenções.
A partir de 1934, a pedido do padre jesuíta Mariano Pinho, que a dirigiu espiritualmente até 1941, Alexandrina escrevia tudo o que Jesus lhe dizia.
Em 1936, por ordem de Jesus, ela pediu ao Santo Padre, por meio do padre Pinho, a consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria. Esta súplica foi renovada muitas vezes até que, em 1941, a Santa Sé interrogou três vezes o arcebispo de Braga sobre Alexandrina.
Crescia sempre mais nela o amor ao sofrimento, na medida em que a vocação de vítima se fazia sentir de maneira mais clara. Emitiu o voto de fazer sempre o que fosse mais perfeito. Desde sexta-feira 3 de outu- bro de 1938 até 24 de março de 1942, ou seja, por 182 vezes, ela viveu em todas as sextas-feiras os sofrimentos da Paixão. Alexandrina, superando o estado habitual de paralisia, descia do leito e com movimentos e gestos acompanhados de dores lancinantes reproduzia por três horas e meia os diversos momentos da Via Sacra. “Amar, sofrer, reparar”, foi o programa que o Senhor lhe indicou.
Em 31 de outubro de 1942, Pio XII consagrou o mundo ao Coração Imaculado de Maria, com uma mensagem transmitida em Fátima em língua portuguesa. Renovou este ato em Roma na basílica de São Pedro em 8 de dezembro do mesmo ano. A partir de 27 de março de 1942, Alexandrina deixou de alimentar-se, vivendo apenas da Eucaristia. Em 1943, durante quarenta dias e quarenta noites o jejum absoluto e a anú- ria foram controlados por médicos especializados no hospital da Foz do Douro junto ao Porto.
Em 1944, o novo diretor espiritual, o Salesiano padre Humberto Maria Pasquale, encorajou Alexandrina a continuar a ditar o diário, de- pois de ter constatado as alturas espirituais a que chegara. Ela o fez com espírito de obediência até a morte. No mesmo ano 1944, Alexandrina inscreveu-se na União dos Cooperadores Salesianos. Quis colocar o di- ploma de Cooperadora “num lugar onde pudesse tê-lo sempre debaixo dos olhos”, para colaborar com a sua dor e as suas orações na salvação das almas, sobretudo juvenis. Rezou e sofreu pela santificação dos Coo- peradores do mundo inteiro.
Não obstante os sofrimentos, ela continuava a interessar-se e in- dustriar-se em favor dos pobres, do bem espiritual dos paroquianos e de muitas outras pessoas que recorriam a ela. Promoveu tríduos, quaren- ta-horas e quaresmas em sua paróquia. Sobretudo nos últimos anos de vida, muitas pessoas iam até ela, mesmo de longe, atraídas pela fama de santidade; e muitas atribuíam a própria conversão aos seus conselhos.
Em 1950, Alexandrina festeja os 25 anos da sua imobilidade. Em 7 de janeiro de 1955, Jesus anuncia-lhe que esse seria o ano da sua morte. Em 12 de outubro, quis receber a Unção dos enfermos. No dia seguin- te, 13 de outubro, aniversário da última aparição de Nossa Senhora em Fátima, ouviram-na exclamar: “Estou feliz porque vou para o céu”. Às 19h:30min, expirou. No Porto, na tarde do dia 15 de outubro, os floris- tas ficaram sem rosas brancas: foram todas vendidas. Uma homenagem floral a Alexandrina, que fora a rosa branca de Jesus.
Em 1978, seus restos mortais foram transladados do cemitério de Balasar para a igreja paroquial, onde hoje, numa capela lateral, repousa o seu corpo. Sobre a sepultura se leem estas palavras desejadas por ela: “Pecadores, se as cinzas do meu corpo puderem ser úteis para a vossa salvação, aproximai-vos: passai todos por cima delas, pisai-as até desa- parecerem, mas não pequeis mais! Não ofendais mais o nosso Jesus!”. É a síntese da sua vida gasta exclusivamente para salvar as almas.