Santidade Salesiana

Eusébia Palomino

ARQUIVO:

 

Venerável: 17-12-1996
Beatificada 25 de abril de 2004
Celebração litúrgica: 9 de fevereiro

Eusébia Palomino Yenes nasce no crepúsculo do século XIX, em 15 de dezembro de 1899, em Cantalpino, pequeno povoado da província de Salamanca (Espanha), numa família muito rica de fé quanto escassa de meios. O pai Agostinho, homem de grande bondade e doçura, traba- lha como operário sazonal a serviço dos proprietários de terras dos ar- redores, enquanto a mãe Joana Yenes cuida da casa com os quatro filhos. No inverno, o campo repousa, o trabalho vem a faltar e o pão escasseia. Então, papai Palomino vê-se obrigado a pedir ajuda à caridade de outros pobres dos pequenos povoados da região. Às vezes, ele se faz acompa- nhar pela pequena Eusébia, de apenas sete anos, incapaz de perceber o preço de certas humilhações; alegra-se com aquelas caminhadas por veredas agrestes e pula alegremente ao lado do pai que a faz admirar as belezas da criação, a luminosidade da paisagem de Castela, descobrindo argumentos catequéticos que a encantam. Depois, chegando a alguma propriedade rural, sorri às boas pessoas que a acolhem, e pede “um pão por amor de Deus”.

O primeiro encontro com Jesus na Eucaristia, aos oito anos de ida- de, dá à menina uma surpreendente percepção do significado de per- tencer ao Senhor e oferecer-se totalmente como dom a Ele. Bem cedo, deve deixar a escola para ajudar a família e dá provas de maturidade pre- coce ao cuidar – sendo ela mesma uma criança – dos filhos de algumas famílias do lugar, enquanto os pais estão no trabalho; aos doze anos, vai para Salamanca com a irmã mais velha, pondo-se a serviço de uma fa- mília como “babá faz-de-tudo”. Nas tardes de domingo, frequentando o oratório festivo das Filhas de Maria Auxiliadora, conhece as irmãs, que decidem pedir a sua colaboração na comunidade. Eusébia aceita mais do que feliz e põe-se logo ao serviço: ajuda na cozinha, carrega a lenha, provê à limpeza da casa, estende a roupa no grande pátio, acompanha o grupo de estudantes à escola estatal e trata de outras incumbências na cidade.

O desejo secreto de Eusébia de consagrar-se inteiramente ao Se- nhor inflama e reforça, agora mais do que nunca, todas as suas orações, todas as suas atividades. Ela diz: “Se fizer os meus deveres com dili- gência, agradarei à Virgem Maria e um dia conseguirei ser sua filha no Instituto”. Não ousa pedi-lo, pela pobreza e falta de instrução; nem se acha digna de tal graça, uma vez que se trata de uma congregação tão grande, pensa. A superiora-visitadora, a quem confidenciou o assun- to, acolhe-a com materna bondade e garante: “Não te preocupes com nada”. E, de bom grado, decide admiti-la em nome da Madre-Geral.

Em 5 de agosto de 1922, inicia o noviciado em preparação à profis- são. Horas de estudo e de oração alternadas com o trabalho cadenciam os dias de Eusébia, que vive no auge da alegria. Após dois anos, em 1924, emite os votos religiosos que a vinculam ao amor do seu Senhor. É en- viada à casa de Valverde del Camino, pequena cidade que, nessa época, conta 9 mil habitantes, no extremo sudoeste da Espanha, na região de mineração da Andaluzia na direção dos limites com Portugal. As jovens da escola e do oratório, no primeiro encontro, não escondem certa desi- lusão: a recém-chegada é um tanto insignificante, pequena e pálida, não é bonita, tem mãos grossas e, além disso, tem um nome horrível.

Na manhã seguinte, a pequena freira está no local de trabalho, tra- balho multiforme que a ocupa na cozinha, na portaria, na rouparia, no cuidado da pequena horta e na assistência das meninas do oratório festivo. Alegra-se por “estar na casa do Senhor por todos os dias da vida”. Esta é a situação “real” da qual se sente honrado o seu espírito que habita as esferas mais elevadas do amor. As meninas logo se deixam prender pelas narrações de fatos missionários, da vida de santos, de episódios de devoção mariana, ou de fatos sobre Dom Bosco, que recorda graças à feliz memória e sabe tornar atraentes e incisivos com a força do seu sentimento convicto, da sua fé simples.

Tudo na irmã Eusébia reflete o amor de Deus e o desejo intenso de fazer com que seja amado; suas jornadas de trabalho são uma contínua transparência disso, confirmadas pelos temas prediletos de suas conver- sas: primeiramente, o amor de Jesus por todos os homens, salvos pela sua Paixão. As Santas Chagas de Jesus são o livro que irmã Eusébia lê todos os dias. Tira delas pontos didáticos através de uma simples “coroi- nha”, que aconselha a todos, também com frequentes acenos. Em suas cartas, faz-se apóstola da devoção ao “Amor misericordioso”, segundo as revelações de Jesus à religiosa polonesa, hoje santa, Faustina Kowalska, divulgadas na Espanha pelo dominicano padre João Arintero.

O outro “polo” da piedade vivida e da catequese da irmã Eusébia é constituído pela “Verdadeira Devoção Mariana”, ensinada pelo santo francês Luís Maria Grignon de Montfort. Esta será a alma e a arma do apostolado da irmã Eusébia ao longo da sua breve existência. Destina- tários são as meninas, as jovens, as mães de família, os seminaristas e os sacerdotes. “Talvez não tenha havido um único pároco em toda a Espa- nha – fala-se disso nos Processos – que não tenha recebido uma carta da irmã Eusébia a propósito da ‘escravidão mariana’”.

Quando, no início dos anos ’30, a Espanha entra nas convulsões da revolução pelo furor dos sem-Deus decididos a destruir a religião, irmã Eusébia não hesita em levar às extremas consequências o princípio da “disponibilidade”, literalmente pronta a despojar-se de tudo. Oferece- se ao Senhor como vítima pela salvação da Espanha, pela liberdade da religião. A vítima é aceita por Deus. Em agosto de 1932, um improviso mal-estar e os primeiros sintomas. Depois, a asma, que em momentos alternados a tinha perturbado, começa agora a atormentá-la até os ní- veis de tornar-se intolerável, agravada por vários mal-estares surgidos de modo insidioso.

Nesse tempo, visões de sangue angustiam irmã Eusébia ainda mais do que os inexplicáveis males físicos. Em 4 de outubro de 1934, en- quanto algumas coirmãs rezam com ela no quartinho do seu sacrifí- cio, interrompe-as e torna-se pálida: “Rezem muito pela Catalunha”. É o momento inicial da sublevação operária nas Astúrias e catalã em Bar- celona (4-15 de outubro de 1934) que serão chamadas de “antecipação reveladora”. Visão de sangue também sobre a sua querida diretora, irmã Carmem Moreno Benitez, que será fuzilada com outra coirmã em 6 de setembro de 1936 e, em 2001, depois do reconhecimento do martírio, será declarada beata.

Nesse ínterim, agravam-se as doenças de irmã Eusébia; o médico admite não saber definir a doença que, acrescentada à asma, faz com que seus membros se deformem, fazendo com que se pareça com uma bola de lã. Quem a visita sente a força moral e a luz de santidade que irradia daqueles pobres membros doloridos, deixando absolutamente intacta a lucidez do pensamento, a delicadeza dos sentimentos e a gen- tileza do trato. Às irmãs que a assistem, promete: “Voltarei para fazer os meus passeios”.

No coração da noite entre 9 e 10 de fevereiro de 1935, irmã Eusébia parece adormentar-se serenamente. Ao longo do dia, seus frágeis despo- jos, adornados de muitíssimas flores, são visitados por toda a população de Valverde. De todos, a mesma expressão: “Morreu uma santa”.

 

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