Sistema Educativo

Amabilidade

Os jovens não sejam só amados, mas que eles conheçam que são amados

 

Enfim, sob o ponto de vista metodológico, a amabilidade (amorevolezza). Trata-se de uma atitude cotidiana, que não é simples amor humano nem apenas caridade sobrenatural. Ela exprime uma realidade complexa e implica disponibilidade, critérios retos e comportamentos adequados.

A amabilidade é traduzida no empenho do educador como pessoa totalmente dedicada ao bem dos educandos, presente no meio deles, pronto a enfrentar sacrifícios e fadigas no desempenho da sua missão. Tudo isto exige verdadeira disponibilidade aos jovens, simpatia profunda e capacidade de diálogo. É típica e mais do que nunca iluminante a expressão: “Aqui, convosco, encontro-me bem; estar convosco é precisamente a minha vida”. Com feliz intuição ele diz claramente: o que importa é que “os jovens não sejam só amados, mas que eles conheçam que são amados”.

O verdadeiro educador, portanto, participa na vida dos jovens, interessa-se nos problemas deles, procura dar-se conta de como eles vêem as coisas, toma parte nas suas atividades desportivas e culturais, nas suas conversas; como amigo amadurecido e responsável, mostra itinerários e metas de bem, está pronto a intervir para esclarecer problemas, para indicar critérios, para corrigir com prudência e firmeza afetuosa, apreciações e comportamentos censuráveis. Neste clima de “presença pedagógica” o educador não é considerado um “superior”, ma um “pai, irmão e amigo”.

Nessa perspectiva, devem ser privilegiadas, antes de tudo, as relações pessoais. Dom Bosco gostava de usar o termo “familiaridade”, para definir o relacionamento correto entre educadores e jovens. A longa experiência convenceu-o de que sem familiaridade não se pode demonstrar o amor, e sem essa demonstração não pode nascer aquela confidência, que é condição indispensável para o bom êxito da ação educativa. O quadro das finalidades a alcançar, o programa e as orientações metodológicas adquirem consistência e eficácia, se marcados por genuíno “espírito de família”, isto é, se vividos em ambientes tranqüilos, alegres, estimulantes.

A este propósito, deve-se ao menos recordar o amplo espaço e a dignidade dados pelo Santo ao momento recreativo, ao desporto, à música, ao teatro ou – como lhe aprazia dizer – ao pátio. É ali, na espontaneidade e alegria dos relacionamentos, que o educador sagaz colhe modos de intervenção, tanto leves nas expressões, quanto eficazes para a continuidade e o clima de amizade em que se realizam. O encontro, para ser educativo, requer um contínuo e aprofundado interesse que leve a conhecer os indivíduos pessoalmente e, ao mesmo tempo, as componentes daquela condição cultural que lhes é comum. Trata-se de uma atenção inteligente e amorosa às aspirações, aos juízos de valor, aos condicionamentos, às situações de vida, aos modelos ambientais, às tensões, reivindicações e propostas coletivas. Trata-se de perceber a urgência da formação da consciência, do sentido familiar, social e político, da maturação no amor e na visão cristã da sexualidade, da capacidade crítica e da justa maleabilidade no desenvolvimento da idade e da mentalidade, tendo sempre bem claro que a juventude não é só um momento de transição, mas um tempo real de graça para a construção da personalidade.

Também hoje, embora num contexto cultural mudado e com jovens de religião também não cristã, esta característica constitui uma dentre tantas instâncias válidas e originais da pedagogia de Dom Bosco.

(João Paulo II, Carta Juvenum Patris, 12)